A nova práxis que propomos para a UNE

Entre os dias 10 e 14 de Julho, a Juventude pela Revolução Brasileira participou, enviando sua delegação de estudantes, do 57º Congresso da União Nacional dos Estudantes. Sendo um congresso que agrega grande parte do movimento estudantil do país e que tem como finalidade direcionar sua atuação pelos próximos 2 anos, consideramos necessário fazer um balanço de nossa atuação e do atual estado do movimento estudantil como forma de propor uma nova práxis política necessária à construção da revolução que já está em curso no país. Para isto, publicizamos este documento, do qual esta é a última de 4 partes.

 

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A nova práxis que propomos para a UNE (parte 4)

 

   O movimento estudantil de esquerda e revolucionário deve ter clareza de que, se hoje o bloco político conservador em torno de Bolsonaro consegue angariar apoio de parte considerável do povo brasileiro para desatar a guerra de classes contra a maioria do povo, é porque este se coloca ao mesmo tempo como radical e como contrário às instituições que tanto construíram a crise, como hoje são destruídas por sua dinâmica. As condições objetivas da crise jogam a classe trabalhadora em luta contra a burguesia, conforme o grande crescimento do número de greves desde 2011, e o sentimento anti-sistema é generalizado na classe. Entretanto, pela ausência de uma opção radical e viável de esquerda, por esta ter em sua maioria optado pela defesa da ordem burguesa, o único que vem capitalizando a insatisfação popular é Bolsonaro desde as últimas eleições.

 

   O caminho viável para a esquerda hoje – sabendo que as condições de consolidação em uma posição mais rebaixada na divisão internacional do trabalho e de centralização do capital nesta fase da crise não possibilitam nem uma base de massas organizada em torno do governo Bolsonaro nem concessões aos trabalhadores dentro da ordem – é o de formar uma vanguarda sólida, anti-sistema e capacitada para intervir nas explosões sociais que hoje estão sendo gestadas e inevitavelmente hão de vir. Tornando-se uma esquerda capaz de traduzir o sentimento anti-sistema da maioria do povo em um projeto socialista. Para tal é imprescindível que não apenas não se confunda perante os olhos do povo com o sistema que gestou a crise, como se afaste e acuse o sistema e seus agentes com toda a firmeza necessária. Não há espaço neste cenário político para a “defesa das instituições democráticas” ou da centralidade de pautas como o “Lula livre”.

 

   A única forma de que a UNE tome este caminho, será romper com a imagem deixada nos últimos 20 anos de mera extensão da política burguesa. Se colocando como um pólo de defesa irrestrita do estudante a partir de seu caráter de classe, e do desenvolvimento da crítica, sem se locupletar e se dirigindo cada vez mais a uma oposição mais firme ao sistema, apresentando um programa independente de classe para a atuação estudantil na guerra de classes como um todo e centrado em um programa de reforma universitária de reconstrução do ensino superior brasileiro em bases revolucionárias. Esta é a única maneira possível da entidade retomar sua legitimidade e se cacifar perante as amplas bases estudantis como órgão dirigente de suas lutas que apenas começaram, uma vez que estas se fundam em uma base concreta, material e não apenas na maleficência de alguns sujeitos que se alçaram ao governo federal.

 

   Para lutar pela construção de tal entidade, uma verdadeira oposição de esquerda deveria, a partir da clareza do caráter objetivo da crise, como também crise de dominação e das instituições, subalternizar suas pretensões aos cargos frente à mais grave importância da luta política concreta e da necessidade de formação de uma direção crítica – de fato anti-sistema – para as lutas que virão. Colocando assim de maneira intransigente a crítica à UNE e suas direções não apenas em um discurso eleitoral abstrato de “retorno às bases” ou “maior combatividade”, mas na prática e no programa.

 

   No programa, isso consiste em fundamentalmente abandonar a política de defesa dessa falsa democracia e suas instituições e a crítica abstrata do sistema, para a crítica concreta do sistema realmente existente, com suas instituições em falência e com a acusação franca daqueles que o administraram por mais de 20 anos. Assim, retirando o monopólio da crítica ao sistema (ainda que falsa) do governo Bolsonaro e trazendo a crítica para o campo da esquerda revolucionária. Para a educação, isto significa rechaçar todas as políticas que façam qualquer concessão ao nosso principal inimigo hoje: a burguesia rentista e todos os seus  aliados, que ordenam a educação, tanto privada quanto pública, a partir de sua possibilidade de auferir lucros e de manutenção de sua hegemonia ideológica. E, a partir disso, apresentar um projeto de educação pautado na independência de classe capaz de, por uma orientação estratégica, atuar pela superação da dependência e do subdesenvolvimento.

 

   Por isso que é essencial que se apresente como o horizonte imediato da luta a estatização dos monopólios privados de educação. Política que golpeia diretamente aqueles que são hoje os principais inimigos da educação, expropria aqueles que vieram nos expropriando pelas últimas décadas e dá o primeiro passo para a construção de uma educação 100% pública, pré-condição para consolidá-la como meio estratégico de gestão dos recursos nacionais para a superação do subdesenvolvimento. E que se lute por nada menos que o fim do vestibular, pelo direito de acesso universal ao ensino superior como forma de superar o caráter de classe desta modalidade de ensino e de tornar incontornável o confronto da universidade com os problemas do povo brasileiro. O que deve estar como central no programa dos estudantes é, portanto, uma reforma universitária radical, articulada pelos passos necessários para a luta contra nosso inimigo. O que está dado é a luta de morte entre a burguesia brasileira e o futuro da juventude. Para esta luta a burguesia já apresentou um plano de ação cristalizado no seu programa de reforma universitária, basta que os estudantes agora façam o mesmo, com o mesmo nível de radicalidade.

 

   No que tange a prática, isso consiste em, na disputa dentro da UNE, fazer a crítica, o combate e a denúncia das fraudes em todas as instâncias. Uma esquerda que abandona a crítica à corrupção é uma esquerda que se evade de suas responsabilidades morais e esquece que a corrupção é o óleo que garante a lubrificação da máquina de dominação capitalista. Combater práticas corruptas dentro da própria UNE de maneira intransigente é, portanto, um imperativo. Em segundo lugar, se insurgir contra o ambiente despolitizado do congresso que só serve para garantir que a hegemonia da UJS/Majoritária se dê em mares tranquilos. Para tal, boicotar as mesas de debate que mais parecem uma coletânea de curiosidades políticas apresentadas por “popstars” da política (que vão de acadêmicos de posição pró-burguesa a políticos parlamentares) e em seu lugar instaurar debates abertos a estudantes de todas as organizações e chapas, que tenham como temas não apenas as resoluções e teses, mas que coloquem o programa e a práxis da UNE e do movimento estudantil, como um todo, na ordem do dia.

 

   Em suma, uma oposição de esquerda não deve apenas voltar às bases ou atuar no dia a dia do estudante. Deve fazê-lo orientada pelo programa tornado necessário a partir das condições objetivas da luta de classes, a qual hoje se expressa como guerra de classes. E deve atuar em todos os espaços em função deste programa, orientado sempre pelo recurso da crítica.

 

   É em função disso que nós, a Revolução Brasileira, não optamos, portanto, por deixar de disputar a entidade. Mas sim, fazer a mais radical e intransigente oposição à forma que esta assumiu nas últimas décadas e continua assumindo. Lutando pela retomada do sentido histórico da União Nacional dos Estudantes para que esta atue pelos estudantes e ao lado dos trabalhadores pela Revolução Brasileira.

 

 

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