A Revolução Brasileira não será uma tarefa histórica para o PSOL

Hoje, os militantes da corrente da Revolução Brasileira deixam as filas do PSOL. O horizonte da Revolução Brasileira é mais fecundo e amplo que as disputas eleitorais que finalmente fundamentam a existência do partido. A luta pelo socialismo requer estratégia e tática afinadas com o objetivo final. A hegemonia no PSOL é do liberalismo de esquerda e não existe qualquer indicação que possa mudar no curto ou médio prazo. É fatura liquidada! Os revolucionários estão convocados à criar um novo radicalismo político e nova práxis destinadas a superar o beco sem saída da esquerda liberal.

Texto apresentado na plenária nacional da RB aprovada em 28 de maio de 2023

 

 O início do governo Lula/Alencar em janeiro de 2002 e o nascimento do PSOL em 6 de junho de 2004 são acontecimentos que pertencem ao início da última grande crise da esquerda brasileira. Após 14 anos de governo, não há dúvida nem mesmo para os mais devotos defensores da consciência ingênua que o PT fracassou historicamente na vã tentativa de dar cidadania ao nosso povo no interior da ordem burguesa; ademais, tampouco logrou avançar uma molécula na luta pela soberania de um país em que estado, economia e cultura estão organizados pela dependência e marcados pelo subdesenvolvimento.

 A aliança Lula/Alencar e depois Dilma/Temer expressam a hegemonia liberal-burguesa dos sucessivos governos petistas contra a qual o PSOL nasceu a partir da recusa de alguns parlamentares petistas em aprovar a retirada de direitos previdenciários dos trabalhadores realizada por Lula em favor da coesão burguesa sob liderança da fração financeira. Entretanto, nascido da costela do petismo, a “revolta” parlamentar jamais logrou a superação da práxis petista. Ao contrário, com o crescimento eleitoral do PSOL, ficou claro que o partido guardava todos os vícios do petismo sem suas virtudes originárias: o valioso vínculo com a classe trabalhadora que o PT exibia em seus primeiros anos de existência.

 O PT foi, portanto, gradual e decididamente, se transformando numa máquina eleitoral de relativa eficácia a favor do regime liberal burguês e de suas frações democráticas. No plano internacional, expressou desde sempre uma aliança com o Partido Democrata dos Estados Unidos, com a socialdemocracia europeia e com o Vaticano. O PSOL também evoluiu na direção da hegemonia liberal ao adotar o identitarismo oriundo dos Estados Unidos como se fosse de fato parte de um programa de emancipação e não apenas um flerte eleitoral com causas que exibem a opressão e exploração de nosso povo. Na sua relativamente longa trajetória, jamais abandonou a condição de espírito crítico das insuficiências eleitorais e programáticas do PT sem, contudo, avançar para sua plena superação.

 A destituição da presidente Dilma em agosto de 2016 revelou a adesão mais explícita do PSOL as insuficiências crônicas do PT e seus governos. Na prática, foi uma destituição sem luta pois a ofensiva burguesa somente poderia ser derrotada com a mobilização do povo que o compromisso de Lula e Dilma com a classe dominante sempre evitou assim como a água não se mistura com o azeite. O PSOL lutou na defesa do mandato da ex-presidente sem lograr diferenciação política com o liberalismo de esquerda encabeçado pelo PT. Na disputa eleitoral de 2018 lançou um candidato completamente submetido à Lula que amargou o maior fracasso eleitoral da história do partido numa disputa presidencial. Na eleição de 2022, simplesmente recusou a possibilidade de candidatura própria e aderiu a chapa petucana Lula/Alckmin já no primeiro turno da eleição presidencial. Não era apenas uma derrota, era uma rendição completa ao petismo. Após a eleição do protofascista Bolsonaro, adesão do PSOL ao PT concluiu de maneira definitiva em nome do combate ao “neofascismo” e outras quinquilharias ideológicas criadas para justificar o cretinismo parlamentar e sua pobreza programática. Além é claro de jamais avançar uma molécula na direção da luta socialista e da Revolução Brasileira. Hoje, não há a menor dúvida, de que o PSOL é um partido satélite do PT, orientado exclusivamente pela disputa de mandatos e governos estaduais e municipais. A adesão ao governo, com a indicação de ministros e também de funcionários para o segundo escalão de ministérios, da mesma forma que a decisão de compor a base parlamentar do governo petucano, revela a mais completa derrota política. Nesse contexto, tampouco há dúvida que o PSOL chafurdará cada vez mais sem inibição no lamaçal da república burguesa em profunda crise.

 Nesse contexto, o PSOL declara-se cativo da impotência petista diante da classe dominante e apenas pretende ocupar espaços eleitorais até então monopolizados pelo petismo. A crise brasileira, entretanto, se aprofunda sem a alternativa de uma solução de natureza popular. No governo – apoiado pelo PSOL – Lula e Alckmin não expressam apenas impotência política e ideológica diante da ofensiva burguesa, mas a mais completa cumplicidade com a economia política do rentismo, essência da república burguesa em crise. O governo pretende tão somente a administração democrática da ordem burguesa que condena a absoluta maioria de nosso povo a miséria e a exploração incapazes de sequer ser mitigada pela digestão moral da pobreza praticada pelos chamados programas sociais.

 A permanência de nossos militantes no PSOL equivaleria, nessas circunstâncias, a cumplicidade com a esquerda liberal contra a qual lutamos cada dia em que estivemos no partido. A guerra de classes que a burguesia trava contra nosso povo não admite ambiguidades e, de nossa parte, não permite qualquer dose de cumplicidade com um governo que não é somente de conciliação de classe, mas, ao contrário, de completa adesão e representação dos interesses burgueses. Aqui, portanto, oficializamos nossa desfiliação do PSOL. O caminho da revolução brasileira – não resta dúvida! – é acidentado e difícil, mas jamais poderá ser trilhado com a cumplicidade e as ilusões do liberalismo de esquerda com a classe dominante e a república burguesa em profunda crise. Antes cedo do que tarde, a ofensiva burguesa contra os trabalhadores colocará a esquerda liberal diante de escolhas que o oportunismo político não poderá ocultar por meio das enfadonhas e impotentes manobras eleitorais e apelos morais. Nós, militantes da Revolução Brasileira, não conviveremos com as ilusões liberais e os erros e menos ainda com apologia às ilusões e aos erros.

 

 

 

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Comentários

  1. Considero acertadissima a avaliação acerca dos rumos do PT. Relendo pérolas do período Lula/Pallocci, vemos que a apatia e a adesão ao programa liberal não vem de agora. Já estavam em escritos desde a transição FHC/Lula. Agora impõe-se-nos a tarefa de provocar a inquietação e a organização da classe trabalhadora para derrubar a ponte sobre o fosso, os portões do castelo e a própria torre ideológica que nos faz crer que a derrota de Bolsonaro foi também a derrota do projeto neoliberal do capital. Há que se provocar outras forças dispersas ou ainda aliadas à base limitada do atual governo no campo democrático e popular.

  2. Eu me perguntava, por que o Nildo continua no PSOL? Confesso que pensei em me filiar ao PSOL, mas refleti e desisti.
    Lendo o texto, bateu um esperança.

  3. Isso! Aí se formam bolhas ideológicas como o PCO, e se vai encolhendo e sem diálogo com a classe trabalhadora ! Tática acertada! Vivemos em uma democracia burguesa – infelizmente essa é a realidade atual – mas a eleição não é importante para vocês, o partido não pode ser visto como ferramenta de transformação social dentro desse sistema, não se luta por dentro como Gramsci pensava e se isolam. É triste ver tanta inocência travestida “ideologia radical”.

  4. Chegou ao absurdo do Ciro Gomes, latifundiário fazer mais critica ao PT do que o PSOL.
    Isso quer dizer que o PSOL está apoiando: arcabouço fiscal (ajuste fiscal), reforma tributária, acordo Mercosul União Europeia.
    Um partido que toma essas posições para a classe trabalhadora não tem razão de ser.
    Acho que a carta da Revolução Brasileira foi muito amena com o PT.
    Acho que faltou uma denuncia direta do PT como partido que trabalha para o capitalismo.

  5. Demorou. Agora é construir e organizar uma nova vanguarda para enfrentar a ultr direita, a direita e o Lulismo. Tarefa difícil, mas necessária rumo a soluções para os trabalhadores e para o país.

  6. A legenda eleitoral PSOL não é espaço para militantes revolucionários infelizmente, mas fica a pergunta: como construir um partido sintonizado com as lutas populares e capaz de oferecer uma alternativa socialista com práxis revolucionária?

  7. Concordo com a análise e com a resolução. A principal tarefas para os trabalhadores brasileiros nessa maravilhosa conjuntura de crise é combater as ilusões e construir um partido que não concorra às eleições. É organizar os trabalhadores comunistas, socialistas e nacionalistas para dar um ajudazinha a burguesia na sua função de seguir aprofundando sua crise e mobilizando a grande massa de trabalhadores brasileiros.

  8. Embora não conheça os/as camaradas do RB, do qual igualmente desconhecia a existência tenho pleno acordo com o inteiro teor do texto. Já nos submetemos a todo tipo de conciliacoes com a classe dominante o que nos mantém na.permanrnte condição dominada mostrando-nos que o nosso caminhar é outro, o da revolução.

  9. Embora não conheça os/as camaradas do RB, do qual igualmente desconhecia a existência tenho pleno acordo com o inteiro teor do texto. Já nos submetemos a todo tipo de conciliacoes com a classe dominante o que nos mantém na.permanrnte condição dominada mostrando-nos que o nosso caminhar é outro, o da revolução.

  10. Totalmente de acordo. Como membro da antiquíssima guarda sei a inutilidade e o quanto é nefasto essas alianças espúrias. Não há solução para a condição de país dependente e subdesenvolvido que não seja a revolução nacional brasileira vislumbrando a revolução proletária continental e internacional.

  11. apesar de afastado, sigo mantendo a mesma base ideológica que anos atrás me fez entrar no PSOL, e a que agora me faz sair do mesmo partido.

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