Entre os dias 14 e 15 de abril, a Juventude pela Revolução Brasileira (JRB) esteve presente no 69° Congresso de Entidades Gerais da União Nacional dos Estudantes, ocorrido em São Paulo (SP), reafirmando suas bandeiras e trazendo à tona o debate das entidades estudantis no contexto da necessidade da Revolução Brasileira.
O CONEG se mostrou mais um episódio de discursos e processos previamente combinados por algumas organizações, repetições de discursos medíocres e desarticulados com as questões centrais que afligem a classe trabalhadora brasileira e comprometidos, exclusivamente, com seus status e reprodução de cargos. Trocando em miúdos, o congresso foi um festejo fúnebre para glorificar a si mesmos, em que o horizonte de disputa se dava fora do real e, dentre seus discursos, imperou o contentamento e a concessão de suas bandeiras em nome da prática parlamentar vulgar que a afasta dos estudantes e trabalhadores.
No entanto, o momento é importante para difusão das teses da JRB, sem, no entanto, se iludir com as disputas por cargos no interior dessas entidades, cujo apodrecimento se dá à luz do dia diante da impregnação do discurso liberal e colonizado. A JRB se apercebe, de forma evidente, por meio de suas teses e resoluções, de que as forças ali presentes, em sua maioria, há muito, se desvirtuaram das ambições que um dia pretenderam de ser. Será necessária uma análise mais minuciosa a respeito dessas.
As entidades majoritárias e sua práxis
As forças majoritárias, propaladas pelas lideranças da UJS, Levante Popular, JS, dentre outras organizações, são o cerne dos problemas que envolvem as entidades em si. É mais do que notório que essas forças assentam seus cargos por oportunismo, através da reprodução parlamentar da política, permeada por infames ilegalidades em seus processos eleitorais, além de ser a principal responsável pela despolitização estudantil nas últimas décadas.
Ora, não se trata de uma falta de organização, desde o rasteiro e despolitizante eleitoralismo até a repentina alteração de local de realização do CONEG sem avisos prévios. É, justamente, parte de sua práxis que se revela diante do conteúdo e da forma das pautas ali tocadas! É natural que seja essa a sua condução. Condução essa que condena centros acadêmicos, DCEs, UEEs e as entidades gerais ali presentes a um rumo sem volta: o esquecimento da convocação do estudante para debates desde o fim do Vestibular à Universidade Necessária no contexto revolucionário. Em troca, perpetua a influência de seus quadros eleitorais com profundo caráter governista, que se vê abarcado pela digestão moral da pobreza e sem horizonte de luta concreto.
Ademais, o conteúdo de seus discursos, além de claramente destituídos das razões de luta materiais e concretas da classe estudantil, revelam seu compromisso com a ordem burguesa e com o governo liberal e de direita Lula III. Dessa forma, recai em profundo contentamento ou, no mínimo, cumplicidade, com a atual conjuntura política e econômica do país e, portanto, das universidades. O exemplo concreto mais recente disso talvez seja o movimento “Revoga NEM” que, ainda que não tenha ido concretizado, já é tratado como vitorioso por parte de entidades que compactuam, mas não compõem, um ministério da educação coordenado por interesses de oligopólios e organizações privadas de educação diretamente responsáveis pela tragédia que se encontra hoje o ensino público brasileiro.
Assim, as entidades majoritárias tornam as lutas concretas em mero prolongamento da vida política parlamentar, exercendo suas funções que vêm prestando enquanto trampolim para a vida parlamentar propriamente dita. Em troca, produzem o esquecimento de suas origens de classe, em nome da resignação da ascensão social de alguns e legitimação do sistema capitalista dependente rentístico e o desdobramento de suas contradições, inseridas no próprio contexto petucano de subfinanciamento da universidade pública em prol do sistema da dívida pública.
A dita “oposição” e sua práxis
Embora tenham se mostrado com o discurso mais “crítico”, trazendo pontos essenciais como o subfinanciamento da universidade pública via sistema da dívida pública e repasse às privadas via ProUni e FIES, afirmados na JRB desde seu princípio, a “oposição”, encabeçada por organizações como Correnteza, Juntos!, UJR e UJC, se fez de forma cosmética, pautada em palavras de ordem que não se respaldam em sua práxis concreta de luta. Ademais, reafirmam o compromisso que têm em perpetuar as forças majoritárias ao se contentar com seus cargos e, para isso, sacrificar suas mais combativas bandeiras.
Contudo, a oposição também experimentou o gosto do próprio veneno, ao perder o conflito identitarista contra as forças que preferem debater antes com Alckmin do que com as bases. O identitarismo é uma ideologia reacionária, anti-marxista e cooptada pelos interesses burgueses. O episódio da blindagem, por parte da mesa (composta pela UJS) de um discurso de uma militante de uma força majoritária, já havendo ultrapassado o tempo previsto de fala, contra o clamor pelo encerramento do discurso, foi expressão de sua práxis orientada pelo discurso identitarista importado dos EUA, que sacrifica o debate racial à luz do contexto dependente e subdesenvolvido na América Latina e, por parte do Brasil, assimilacionista.
Ao tentarem se propor como nova UNE, a oposição escorrega em seu discurso perfumado por termos marxistas ao não assumirem a oposição diante da agenda Lula-Alckmin na Economia e na Educação, tampouco organizarem a radicalidade do seio do movimento estudantil por meio do não contentamento com cargos disponibilizamos pelas forças majoritárias. No lugar, surgem em seus núcleos e entidade discussões distantes do horizonte de luta estudantil , mais preocupadas em irrelevantes dilemas importados do Eurocomunismo do que, necessariamente, o debate da Universidade Necessária de Darcy Ribeiro e da Revolução Brasileira como caminhos de superação das gravidades do ensino superior público, como a dependência científica e tecnologia e a segregação do imenso contingente populacional de fora de seus muros.
Por fim, sua aparente ruptura, entre as organizações que a compõem, seja em disputas de CA, DCE ou UNE, não passam de meras divergências de caráter eleitoral, e não político. O caso do DCE Mario Prata UFRJ é bastante ilustrativo nesse sentido, cuja expressão mais acabada seja a incapacidade de, cada vez mais e, em especial, neste ano, liderar mínimas frentes de luta, tampouco orgânicas com a classe trabalhadora carioca e nacional. Os temas centrais, como o subfinanciamento da universidade e dos auxílios para pagamento de juros da dívida pública passa, assim, despercebido também por essas entidades, esterilizadas pelas conjunturas eleitorais e inseridas em uma práxis reprodutora da ordem que tanto dizem combater .
A UNE
A UNE já não representa a luta estudantil nos quesitos acesso, permanência e doutrina da universidade. Destoa de suas vitórias históricas ao negligenciar, todos os dias, o projeto da Universidade Necessária, em prol de uma universidade burguesa e academicizante.
Ao declarar-se, a apenas alguns metros do Memorial da América Latina, defensora dos ideais de Darcy Ribeiro, repetindo frases descontextualizadas e que Darcy Ribeiro jamais as utilizaria para defender o projeto que a UNE tem em mente para a educação brasileira, profana seu nome e suas obras. O horizonte de luta da UNE encontra-se do lado oposto ao de Darcy Ribeiro: resignado e rendido diante do avanço dos conglomerados e dos investimentos privados num ensino que, além de público, deve ser comprometido com as demandas concretas da classe trabalhadora e a superação do subdesenvolvimento e da dependência.
Os passos a serem dados até o CONUNE
De um lado, uma majoritária governista, cujo horizonte de luta perpassa os valores democráticos e eleitorais que são rechaçados pela maioria da população. Do outro, uma oposição cosmética que adota os princípios burocratas que não disciplinam para novos quadros políticos. O CONEG foi um pedagógico momento para declarar a profundidade das contradições que emergiram das lutas estudantis, com caráter defensivo, pouco propositivo e performático diante da decomposição da universidade pública e do sonho desenvolvimentista, ao ver a universidade privada tomar 92% das matrículas estudantis no país e a participação da exportação dos produtos agrícolas e minerais superar a fatia da manufatura no PIB brasileiro em 2021 depois de décadas (ver mais…) e discursos da mesa do 69° CONEG). Evidencia-se um momento com cunho implícito bastante pedagógico de que as entidades estudantis estão distantes dos conflitos que emergem do movimento das classes, mais preocupadas em discussões irrelevantes sobre eurocomunismo do que explicar as contradições emergentes no novo pacto petucano.
O CONEG foi prova de que há muito trabalho a ser feito, sem fugir da questão o “por quem” será feito. Todos os indicativos levam a crer que o CONUNE não passará da reafirmação do espaço imobilista protagonizado pelas mesmas entidades estudantis, incapazes de orientar o debate da necessidade da superação de mazelas desde as desigualdades regionais à perpetuação do racismo somente possíveis no horizonte de concretização da Revolução Brasileira, tendo, em seu processo, o essencial aspecto de única via para superação do subdesenvolvimento e da dependência.
Juventude pela Revolução Brasileira