A interpretação oficial que os setores hegemônicos do PSOL fazem de nosso partido traça um lindo quadro: se trata de um partido em constante crescimento, que combina as antigas pautas de luta com as novas reivindicações sociais, com uma bancada preparada e combativa e com uma vida interna intensa, plural e democrática.
Nada poderia ser mais falso. O aumento em filiações não impacta no corpo militante, o programa é atrasado e não indica concretamente as mudanças revolucionárias para a sociedade brasileira, os parlamentares do partido seguidamente participam de fiascos políticos, como no caso de Niterói, e a vida partidária é medíocre. Reuniões pouco frequentes de figuras marcadas com escassa discussão política séria.
Membros de militância sazonal, dirigentes ocupados tão só nos temas das bancadas que são verdadeiros feudos parlamentares, candidatos de origem pequeno burguesa e de frágil preparo político e teórico. Isso sem falar na falta de centralização organizativa baseada nas lutas de classes. Em vez de uma direção estável de revolucionários experientes, temos a luta entre tendências interessadas no controle de um aparato eleitoral. O PSOL vai mal.
Em Santa Catarina, o PSOL não dispõe de grupos militantes nos grandes frigoríficos do estado, tampouco há isso nos grandes monopólios de comércio ou nas grandes construtoras catarinenses. Nenhum militante sério espera um milagre nesse terreno, sabemos que é um trabalho militante que demanda anos para sua estabilização. Acontece que não temos nem sequer um plano de ação nesse sentido, e isso também nenhum militante sério pode suportar. Também nos setores camponeses empobrecidos pela integração à agroindústria e pela concentração da terra não temos o PSOL como força política, e muito menos nos setores policiais que agora entram em movimento contra a contrarreforma estadual da previdência.
Esse quadro é o que exibe a verdadeira debilidade política do PSOL-SC. As frases feitas de um ou outro vereador, o “quase sucesso” eleitoral em Florianópolis, as ilusões dos assessores parlamentares e sua autoproclamação, nada disso é capaz de enganar os militantes comprometidos em construir uma organização de combate dos trabalhadores. O PSOL em SC vai mal.
O Sétimo Congresso do PSOL aprofunda todos e cada um dos problemas do partido. Os temas fundamentais são postos debaixo do tapete, como as alianças eleitorais em 22 ou o papel do partido nas manifestações de rua pelo Fora Bolsonaro. Em troca, temos a discussão estéril sobre candidaturas coletivas ou então sobre alguma modalidade de ecossocialismo, o que se assemelha a descrição dos paraísos pessoais dos filiados. A discussão política é separada da votação, a participação digital é reduzida e inorgânica.
Nesse vale de lágrimas que é o PSOL e seu sétimo congresso é que se insere o caso da urna em Chapecó. A impugnação da urna em Chapecó se baseia em práticas inaceitáveis: a) a participação do denunciante nos atos em que só depois de garantida a conveniência foram considerados pecados capitais, b) a edição arbitrária e falsificadora de um vídeo gravado às escondidas, c) as acusações pífias e mentirosas de votos comprados por um prato de carreteiro e de realização de boca de urna, d) a exposição e o ataque público a militantes que dedicaram os melhores anos de sua vida à causa socialista, e) a impugnação sem direito ao contraditório.
Isso por si só deveria ser o suficiente para gerar a desconfiança dos militantes críticos e honestos. Mas essa pequena manobra encontra eco nos quadros já traçados: o caráter oportunista da direção liberal de esquerda. Chamemos as coisas pelo nome: o caráter oportunista e o cretinismo parlamentar da Primavera Socialista e da Resistência. É a aliança de desonestidades e cretinismos cotidianos com um grupo partidário oportunista que atrasa o desenvolvimento do PSOL no SC. É esse hoje o nó górdio.
Todo o trabalho político posterior, como a realização de um curso de formação estadual, a formação política de quadros e de um programa para 22, a prestação de contas por parte da executiva estadual, a ampliação e consolidação de diretórios municipais e uma justa unidade entre as tendências e coletivos, tudo isso está submetido a luta contra o oportunismo da corrente que dirigem o PSOL-SC há anos e que hoje luta para desconsiderar os mais de 30 votos em Chapecó, absolutamente decisivos.
Lutar contra o oportunismo e o cretinismo reinante significa lutar por uma nova hegemonia no PSOL. Uma nova hegemonia significa, mais do que a situação majoritária de uma corrente, uma nova práxis política que oriente o PSOL no sentido do socialismo e da Revolução Brasileira. Significa analisar seriamente o caráter de classe do partido e sua relação com os trabalhadores e então propor e realizar novos rumos, discutir as medidas possíveis e necessárias para desembaraçar o Brasil da crise que vive, discutir o perfil de militante que se quer formar, debater a eficiência das instâncias de direção e sua renovação em todos os sentidos, delimitar um rígido controle do partido sobre os parlamentares e combater até a morte o contrário, e afirmar sempre e sem dúvidas uma alternativa revolucionária para os trabalhadores.
O regime político da Nova República se encontra em uma grave crise. O parlamento, os tribunais, os monopólios de imprensa, os grandes partidos da ordem e os governadores de estados não gozam em absoluto da confiança popular. As instituições estão carcomidas pela corrupção no mais variado nível, a política brasileira toma cada vez mais traços pornográficos e caricaturais, as polícias aumentam diariamente a repressão contra os pobres e os trabalhadores. O comportamento político das Forças Armadas se alinha cada vez mais com a solução da intervenção armada sobre o cenário político dominante, tanto a burguesia latifundiária como os monopólios das finanças, e todas as outras frações do grande capital, se articulam para substituir o sistema político pela via do fogo e do sangue. O salário mínimo praticado não chega a 20% do necessário para uma família trabalhadora e o desemprego atinge dezenas de milhões de trabalhadores em suas variadas modalidades. Sob o nome de República o proletariado e os subalternos reconhecem a violência, a exploração e o roubo descarado. Ninguém em sã consciência é capaz de defender ativamente esse sistema político. Nesse ínterim, a extrema direita tenciona permanentemente contra o regime, seja pela via das motociatas ou da agitação virtual. As sólidas bases de hoje irão se desmanchar no ar amanhã. A única saída posta no momento é a burguesa: uma depuração política pelo método do terrorismo de Estado.
Acontece que, tragicamente, a concepção parlamentar da política que é a regra na esquerda em geral, e no PSOL em particular, coloca a defesa abstrata da democracia em primeiro plano. Deputados com aventais laranjas se tornam, nessa linha, um ato combativo e o antifascismo se resume à impotência de uma fala diante dos tanques dos gorilas. A solução é sempre pela via eleitoral. A leitura da luta de classes não é sequer um eixo secundário, e dirigentes e parlamentares que ontem eram orgulho do partido hoje embarcam em siglas mais adequadas ao seu apetite eleitoral.
O PSOL, em seus métodos de direção e organização e no conteúdo de sua política não está preparado para oferecer uma saída à esquerda da crise da república burguesa. Essa é a contradição fundamental que devem resolver os militantes revolucionários que atuam dentro do partido. É isso que rebaixa a práxis nos níveis estaduais e municipais. Superar a hegemonia do liberalismo de esquerda é a principal tarefa dos socialistas revolucionários, e fora dessa trilha tudo é ilusão.
O universal se manifesta no particular. Toda uma parte do PSOL-SC viveu praticamente os métodos baixos e pífios que usam para garantir sua posição o grupo de parlamentares, assessores e burocratas acomodados. Esse mesmo grupo irá embarcar em uma frente eleitoral incapaz de melhorar a situação do povo brasileiro, apagando a possibilidade de criar um polo socialista e revolucionário no processo eleitoral. Esse grupo se mostrou incapaz de construir uma organização sólida e útil aos trabalhadores catarinenses. Entretanto, não basta só a oposição aos métodos. A honestidade política é basilar, mas não suficiente. Portanto, não basta rechaçar a impugnação ilegal da urna em Chapecó. Há que operar um giro completo no programa e na práxis política dominante no interior do PSOL. Não é tempo de meias mudanças, tampouco de meias soluções. O combate aqui e agora é pela Revolução Brasileira.
excelente reflexão!
Total apoio ao conteúdo textual.
O texto é correto em sua crítica e concatenação lógica. No entanto, pessoalmente, estou convencido de que o cretinismo do PSOL tem causas ainda piores.
É preciso criar um novo partido que seja realmente revolucionário. O PSOL se perdeu e não tem mais volta. Agregar toda esquerda revolucionária, dispersa por divergências que não entravem a luta, é necessário e urgente.
Ultimamente tenho refletido muito sobre todo o esforço que a RB faz para alterar este terrível quadro de cretinismo e hipocrisia no “pisól”, existente em todos os partidos que se denominam como esquerda. Fundar um novo Partido não seria mais produtivo, aglutinando todos com uma convicção ideológica semelhante? É tanta dificuldade que me pergunto se vale a pena sair do petê para ficar patinando em outra farsa. Contem comigo numa nova empreitada, saudações!
Psol
Com uma discutível direção partidária dessa natureza com características e traços oportunistas, senão truculentos, que visa manter e preservar as regalias, acordos e demais benesses obtidas no sistema político-eleitoral, incluindo a disputa entre apaniguados e demais interessados dos milionários fundos públicos… não há como aspirar qualquer possibilidade de mudança ou alternativa diante do caos social, político e institucional em que estamos todos submersos.
Meus camaradas revolucionários, a burguesia nacional e a esquerdinha acadêmica identitária, esses atores sociais são tão pilantras e contra o povo, que simplesmente não há outro caminho, se quisermos realmente mudar o Brasil e reestruturar a sociedade e o Estado brasileiro, temos que pegar em armas e montar um movimento revolucionário de verdade e tomar o poder. Com o mecanismo partidário-institucional-eleitoral, nao vamos mudar nada. Ficaríamos nesse eterno lenga lenga e nessa eterna lamentação anticapitalismo dos intelectuais de esquerda, inclusive o nosso querido Nildão da massa. Tem que pegar em armas e tomar o poder. Nao tem outro jeito. A burguesia jamais vai permitir a real democratizaçao e libertaçao do povo por via pacífica. São tubarões sociais insaciáveis, que só amedrontando na base do AK-47 a gente pode colocá-los na linha ou expulsá-los do país pra construirmos um verdadeiro país justo e democrático. Estamos no séc XXI, já era pra ser jornada de trabalho de 4 dias e três dias livres toda semana, já era pra ter uma política efetiva de pleno emprego e fim do exército industrial de reserva, já era pra todos terem moradia de bom nível e alimentação disponível e só não há tudo isso porque os tubarões sociais impedem e neutralizam de todas as formas. A gente quer mudar com isso através de merda de Psol? Jean Willis? Samia Bonfim? Ivan Valente? Freixo? Temos que montar um grupo rebelde armado, camaradas, nao tem outro jeito. E lembrem-se: as forças armadas no Brasil são lixo puro. Não é tão difícil assim derrotá-los militarmente, desde que pudéssemos montar um grupo armado com alguns milhares de membros (armamento base: AK-47, como os talibãs), com células espalhadas por todos os estados do país. As forças armadas brasileiras são mal treinadas, não tem experiência real de combate e os armamentos são puras sucatas, como vimos a demonstraçao na tanquiata do bozo. Quem quiser começar e aprofundar discussões comigo nesse horizonte, me mande email: pedrorules1917@gmail.com. Vamo pra luta de verdse, porra! Vamo mudar o Brasil e instaurar o bolivarianismo brasileiro nessa porra! E não é piada. Saudações, camaradas