No documento “Guerra de Classes no Rio de Janeiro”, escrito em fevereiro deste ano, a Revolução Brasileira antecipou seu posicionamento a respeito do que hoje vem a ser o segundo turno das eleições para a prefeitura, ao declarar que, “do ponto de vista dos trabalhadores, Paes é Crivella, e Crivella é Paes”[i].
Trata-se da disputa entre diferentes frações da burguesia pelos frutos do trabalho excedente do povo. A herança que estes dois últimos prefeitos legaram aos trabalhadores foi uma gigantesca crise de dimensões econômicas, políticas e sociais. As desonerações tributárias, corte de verbas na saúde e na educação, a privatização e destruição dos serviços públicos através das OSs, e o loteamento dos cargos públicos para manter funcionando as alianças dos capitalistas, tudo isso fez sangrar gravemente o orçamento do município, nos conduzindo à desastrosa condição atual.
Enquanto meros lacaios que representam um papel superficial na disputa intraburguesa pelo poder da prefeitura, sua competência se restringe a mediar negócios das grandes empresas (além dos seus próprios), e reprimir as manifestações populares. Dissemos já em fevereiro que “Paes deverá se colocar como o candidato liberal, e Crivella como o candidato do bolsonarismo. Serão apresentados como a água e o vinho, como a luta entre o progresso e o atraso. Independente de qual antagonismo seja apresentado como central, os trabalhadores terão de enxergar a profunda concordância que perpassa subterraneamente a disputa entre o campo liberal e o campo bolsonarista e, mais especificamente, entre Crivella e Paes.”
Em nota, o PSOL Carioca se posicionou por “nenhum voto em Crivella”, ao que a Revolução Brasileira acrescenta: “e nenhum voto em Paes”. Ambos são igualmente inimigos dos trabalhadores. A cotejo arbitrário entre listas contendo os feitos negativos de cada um não nos oferece diferenças tão grandes a ponto de que o partido recomende com firmeza aos trabalhadores o voto em qualquer um dos dois. O menor resquício de progressismo aqui poderia fazer a diferença no posicionamento político da esquerda carioca. Mas não é o caso. Paes representa os interesses da grande burguesia liberal, enquanto Crivella representa os interesses da pequena burguesia conservadora e de setores arrivistas da média burguesia (menção nada honrosa aos mercadores da fé).
É verdade, como diz a nota do PSOL, que Crivella aparentemente possui um agravante. Seu uso oportunista da religião de fato apresenta à luta dos trabalhadores contra a burguesia um terreno muito mais pantanoso e de difícil movimentação. Sua pauta conservadora dos costumes ainda tem o efeito de prolongar na esquerda a hegemonia das pautas identitárias, que mais uma vez esvaziou a possibilidade deste processo eleitoral reafirmar a centralidade da luta de classes. Isso fica claro na própria nota do PSOL Carioca, quando, ao caracterizar os feitos negativos de Paes, destaca nitidamente a “defesa dos interesses da máfia dos ônibus e das grandes empreiteiras, transformando a cidade em um balcão de negócios para os grandes empresários”, enquanto, para caracterizar os feitos negativos de Crivella, destacou-se, além do vago projeto religioso de poder, o fato de que ele “representa os setores que combatem as liberdades, os direitos das mulheres e da população LGBTQIA+”. Nos parece que o foco do partido aqui não deveria ser tanto no contraste entre os dois, mas no fato de que, apesar desses contrastes, no governo Crivella a cidade foi “um balcão de negócios para empresários” tão agitado quanto nos governos de Paes, no fato de que a agenda econômica ultraliberal é o fator essencial para estabelecer a continuidade entre ambos.
Essa virada de chave, da análise de classe para a análise identitária, quando passamos de Paes à Crivella, é o deslize que faz o PSOL Carioca tombar para a posição de um apoio envergonhado à Paes. Envergonhado pois, caso o governo Crivella representasse realmente um retrocesso às liberdades individuais maior do que os governos Paes, então a posição do partido deveria com razão definir-se mais firmemente por apoiar o segundo, sem margem para ambiguidades. No entanto, não é o fascismo, não é o fundamentalismo religioso, mas a própria agenda ultraliberal – fator de coesão entre diferentes frações burguesas – quem mais rápido e mais intensamente está destruindo as garantias individuais dos trabalhadores. Há uma profunda comunidade de interesses que subjaz à disputa entre o bolsonarismo de Crivella e o liberalismo de Paes, e é precisamente essa comunhão de interesses que os opõem aos interesses da classe trabalhadora.
Nem Paes, nem Crivella! Para os trabalhadores, não há menos pior; ambos são piores. O voto dos trabalhadores deve ser um voto de protesto contra o atual sistema político que só faz oprimir o nosso povo e privá-lo de qualquer participação política decisiva. Por isso, a Revolução Brasileira, no Rio de Janeiro, se posiciona pelo voto nulo no segundo turno das eleições municipais.
[i] No referido documento fazemos uma análise mais detalhada da continuidade entre as administrações Paes e Crivella, bem como sobre o papel do PSOL nas eleições deste ano. Leia aqui: https://revolucaobrasileira.org/12/02/2020/guerra-de-classes-no-rio-de-janeiro-um-programa-revolucionario-para-a-disputa-da-prefeitura/
Discordo que a Revolução Brasileira deva se posicionar contra o voto nulo só no Rio, deveria fazê-lo em todos os Estados que restaram para o segundo turno. É um absurdo achar que um liberal de esquerda, somente por ser de esquerda, merece qualquer apoio de uma corrente REVOLUCIONÁRIA, que não dialoga com moderações e tem consciência da recíproca. Mas, enfim, é só uma crítica.
Ao contrario do Datafolha, o Ibope mostra a petista na frente da pedetista, com mais chances de tirar Crivella do segundo turno. Na ultima semana, as militancias dos dois partidos tem discutido nas redes sociais por causa da estrategia de Martha, que prega voto util nela.