Na última segunda-feira, dia 18, o PSOL aprovou, em reunião do Diretório Nacional, realizada virtualmente e fechada à militância do partido, a união com o partido liberal-burguês Rede Sustentabilidade através do novo mecanismo da Federação Partidária.
Tal desfecho não é um raio em céu azul. O processo – que se deu completamente a portas fechadas, sem nenhum tipo de debate oficial com as bases partidárias e a toque de caixa – demonstra o grau de burocratização do partido. O resultado do processo e a maneira como ele se deu estão umbilicalmente ligados, mas ambos são fruto de problemas políticos de fundo.
A hegemonia do liberalismo de esquerda e a submissão completa à lógica parlamentar na ação política fizeram do PSOL um partido totalmente adaptado à ordem, sendo parte de um regime político – a Nova República – que envelheceu aceleradamente, como resultado do processo do aprofundamento das contradições sociais num país dependente e periférico sob uma brutal crise do capital.
Com efeito, o PSOL vem paulatina, mas aceleradamente, produzindo uma adaptação a esse regime por não possuir, por um lado, um diagnóstico dessa crise e não conseguir, por outro, superar as suas próprias limitações internas. Como resultado dessas ausências e limitações, expressadas pela hegemonia liberal e pela lógica parlamentar, o PSOL, enfim, abraçou efusivamente o lulismo e seu paradigma de que “não há alternativa”.
Como partido que só sobrevive através da lógica parlamentar, a adesão a uma Federação com a Rede para fugir da cláusula de barreira é apenas uma decorrência óbvia. Ela não é algo infinitamente mais grave, como apontam uns, nem algo banal, como defendem os paladinos da “flexibilidade tática”, do que uma série de outras posições políticas que o partido vem adotando. Porém, é emblemática e se converte numa síntese dessas posições. Por isso, nós claramente rechaçamos tal medida, ainda que já cientes que ela iria ser aprovada a qualquer custo.
Nesse sentido, um claro sintoma do caminho trilhado pelo PSOL é a burocratização de sua direção, expresso nitidamente na maneira como se deu a aprovação da Federação. Durante todo o mandato do anterior Diretório Nacional, o representante da Revolução Brasileira, Nildo Ouriques, propôs que suas reuniões fossem abertas à militância, e foi solenemente ignorado por todas as correntes – inclusive aquelas que, hoje, se mostram estupefatas com a aprovação da Federação. Um partido avesso ao debate, ao escrutínio da crítica e ao confronto público de posições políticas perante sua base militante só poderia, portanto, caminhar nessa direção.
As bases do partido, juntamente com as correntes políticas contrárias à Federação, devem se colocar em desobediência ativa contra tal medida. Devemos tensionar e denunciar os acordos que advirão dessa união com a Rede, e fazermos campanha contra toda e qualquer candidatura que não carregue o programa socialista do PSOL.
Convém, finalmente, reforçar que a consumação do atalho adotado pelo PSOL para se manter com viabilidade eleitoral não se revela, porém, somente na efetivação da Federação com a Rede Sustentabilidade, à revelia do debate militante e como expressão da decadência política e programática que a hegemonia liberal dissemina sob o destino do partido. Antes, expressa-se mais claramente com o duplo movimento no interior do PSOL que tende a decretar, na consciência de milhões, a sua consolidação como mero partido da ordem burguesa.
Referimo-nos, pois, à divisão entre aqueles que, de antemão, reduzem o partido à mera força auxiliar do lulismo – corrente hegemônica entre sua cúpula hoje – e aqueles que, de forma tímida e vacilante, esperam ensaiar uma divergência com o lulismo no primeiro turno, fazendo total vistas grossas, contudo, às suas vicissitudes no segundo, independentemente do programa, dos acordos e das conciliações que este encomende como critério para retornar à chefia do Executivo nacional.
Como as sínteses humanas são tão mais vastas e arrojadas quanto mais arbitrárias, o argumento que se filiam para negar a própria razão de fundação do PSOL é o mais nobre possível: combater o bolsonarismo e a suposta ameaça fascista que o mesmo representa. Como se o fundamento que alimenta tal fenômeno pudesse ser simplesmente derrotado em eleições burguesas, e como se a correlação de forças políticas fosse resultado de somas aritméticas e não de tensionamento, luta social e política e, acima de tudo, de um correto diagnóstico da situação política acompanhada de clareza e radicalidade programática capaz de ajudar a mover as massas.
É assim que, vestidos com as roupas da “batalha mais urgente”, procuram ocultar o lado oportunista que informa o movimento: a busca por conquistas e manutenção de assentos na ordem burguesa – motor de uma vida política reduzida aos limites do calendário eleitoral. Certamente não podem querer esperar que a lucidez do nosso povo, precavido do caráter farsesco do jogo parlamentar, entenda o movimento não pelo seu cartaz, mas, antes, pelo seu fundamento real.
Se o oportunismo e o carreirismo daqueles que hegemonizam as decisões do partido forem condecorados com o silêncio e a apatia acrítica de nossa militância, o PSOL assinará, prematura mas definitivamente, seu atestado de óbito. Assim, ainda que se reproduza enquanto opção moral para a disputa eleitoral – fato menor diante da gravidade da hora vivida – não poderá erguer-se como força política capaz de vocalizar e conduzir o ódio do povo brasileiro ao sistema político, coordenando sua luta para efetivação das radicais transformações que o país e o nosso povo reclamam.
“Devemos tensionar e denunciar os acordos que advirão dessa união com a Rede, e fazermos campanha contra toda e qualquer candidatura que não carregue o programa socialista do PSOL. ”
É verdade, a morte “anunciada”, agora foi decretada. Mas pelo exposto na vossa nota, vocês pretendem continuar habitando esse cadáver em putrefação?
Um milhão de notas e não sair de um partido liberal. Vai pedir voto Alckmin que vocês ganha mais
Realmente, diante disto não vejo como aqueles que primam por uma radicalidade e pela causa da Revolução possam continuar em um partido claramente capitulado pela lógica eleitoral e pelo Oportunismo disfarçado de “mal menor”!
vai continuar dentro do p$ol liberal e burocratico e não vai mudar nada, ou construir algo novo com a esquerda radical ?