A atualidade da Revolução Brasileira
A sociedade brasileira vive uma verdadeira guerra de classes. Guerra declarada pela classe dominante, que bombardeia diariamente o povo brasileiro sem encontrar grande resistência. Refém do projeto conciliatório e desarmados ideologicamente, os setores populares encontram-se em completa desorientação e são incapazes de reagir e apontar qualquer saída ao povo brasileiro. O contra-ataque só se mostra possível mediante um acerto de contas com o passado.
Esta guerra de classes contra o povo começou entre 2014 e 2015, quando Dilma abriu a primeira fase do “ajuste fiscal” e colocou restrições de acesso ao abono salarial, seguro-desemprego, seguro-defeso, pensão por morte e auxílio-doença, tudo isso acompanhado do maior corte de gastos da história do país, que paralisou a economia e deu o gatilho para a escalada do desemprego. Em 2016, a artilharia de Michel Temer veio ainda mais reforçada, com o congelamento de gastos sociais por 20 anos, o fim do regime de previdência pública e a virtual supressão das leis trabalhistas. Está em curso a operação que desvia mais ainda a riqueza nacional diretamente para o bolso dos capitalistas, proprietários dos cartéis da corrupção que comandam o país. Combinados, o programa de Dilma/Temer dos últimos 3 anos produziu colossal massa de miseráveis no Brasil.
O pretexto para realizar estes ataques aos trabalhadores é a crise. Nela cabem os mais cândidos discursos republicanos e a preocupação com o futuro do país por parte dos políticos profissionais. No entanto, sabemos que não há dois Congressos: os deputados e senadores que votam sistematicamente o enforcamento da classe trabalhadora são os que mostraram suas vísceras à população na fatídica votação do processo de impedimento de Dilma Rousseff. Trata-se de um parlamento corrupto e na sua maioria absoluta identificada com os ricos (latifundiários, banqueiros, industriais e comerciantes). Enfim, um parlamento dominado pela classe dominante. Até mesmo o sujeito mais distante da vida política sabe que o Congresso Nacional é, nas condições atuais, um verdadeiro covil de ladrões, sem a menor autoridade moral para votar qualquer matéria de interesse público.
Michel Temer, o atual presidente, foi colocado na linha de frente num compromisso do PT/PMDB pela classe dominante para gerenciar a artilharia pesada dos financiadores de campanhas, dos sonegadores de impostos, dos políticos e empresários investigados pela Polícia Federal e dos rentistas do sistema financeiro contra o povo.
A gravação das conversas entre Sérgio Machado e Romero Jucá nos lembra que a guerra contra a classe trabalhadora não pode prescindir de um pacto com o Supremo Tribunal Federal. A suspeita morte de Teori Zavaski enquanto viajava num jatinho com um empresário-réu no STF e a escolha de Alexandre de Moraes para a mais alta corte do país não deixam dúvidas de que o poder judiciário está blindado à com a podridão da política brasileira. Muito menos deve-se alimentar esperanças de que um grupelho de promotores do Ministério Público Federal possa realmente ser capaz de “passar o país a limpo”.
O fato é que o sistema político brasileiro se mostrou incapaz de renovar-se e de oferecer respostas satisfatórias à crise atual. Esgotou-se a capacidade de reorganizar um pacto de classes, aliado ao fato de que os três poderes estão atravessados pela corrupção, e pelo aprofundamento do caráter de classe do Estado. As acusações de corrupção estão bem documentadas na maioria dos casos. Trata-se de uma crise terminal deste sistema político. Como tal, não passa de ingenuidade pensar que um novo processo eleitoral seja capaz de recuperar automaticamente a legitimidade do sistema diante das massas. A natureza específica da crise atual exige um contra-ataque que deve ir além dos limites praticados pelas classes subalternas até o momento.
A gravidade do momento tampouco nos permite aceitar novas ilusões e oportunismos. Preocupado em garantir cargos nas Mesas Diretoras, Lula flertou com o apoio a Rodrigo Maia e Eunício de Oliveira para as presidências da Câmara e do Senado. Sugeriu que se abandonasse o discurso contra o golpe e, numa insuperável demonstração de sua vulgaridade política, deu conselhos ao corrupto Michel Temer durante as visitas da comitiva presidencial após a morte de Marisa Letícia. O que era “Fora Temer” foi desautorizado por Lula e convertido em: “Me chama, Temer”. Como parte integrante e personagem central, metido até as vísceras com um sistema político apodrecido, Lula jamais poderá representar a sua redenção.
O Brasil enfrenta uma encruzilhada em sua história. É uma batalha pela soberania nacional: permaneceremos controlados por um pequeno grupo de interesses completamente alheios aos da maioria do povo? Com a crise, abriu-se um espaço para o radicalismo de esquerda como há muito não existia no Brasil: é chegada a hora de substituir um sistema político falho e corrupto, por um governo de compromisso e vocação revolucionários.
As grandes nações do mundo nunca se furtaram a passar por processos revolucionários. Os países hoje avançados foram os que tiveram coragem para incluir capítulos revolucionários em suas histórias, cujas classes subalternas disputaram o protagonismo dos processos políticos nacionais.
O Brasil não faz parte deste clube. Por aqui, as grandes transformações sociais sempre ocorreram sob a bandeira da prudência e da conciliação. Foi assim para a Independência, mantendo a família real portuguesa no comando da nação; foi assim para a abolição da escravatura, só libertando os negros por completo quando já se havia importado o número suficiente de europeus e já se havia garantido que os futuros ex-escravos não teriam acesso à propriedade; foi assim para sair da ditadura civil-militar, com uma inaceitável lei de anistia que equiparou torturadores e torturados na hora do perdão. Transições levadas a cabo pelo comedimento e o bom comportamento para que sempre predominasse a velha máxima: mudar algo, para que tudo permaneça como está.
A recompensa pela cautela brasileira na hora de promover grandes transformações sociais nunca foi além de um misto de simpatia e compaixão mundial. Por aqui, a classe dominante sempre alimentou o mito de que nosso exemplo de conduta cordial e diplomática nos levaria, naturalmente, ao rol das grandes nações desenvolvidas do mundo. Assim aguardamos desde sempre a concretização do surrado e idealista bordão: “Brasil, o país do futuro”.
Aos desavisados e irritantemente pacientes com o ritmo lento do desenvolvimento do subdesenvolvimento brasileiro, um recado: não há rigorosamente nada que assemelhe o passado dos países de capitalismo avançado ao presente da periferia capitalista. Por consequência, não há como esperar que o presente destes países possa ser, sob estas as mesmas circunstâncias, o nosso futuro.
Nesta encruzilhada histórica, a única saída é criarmos nosso próprio caminho. É urgente rompermos com os modelos do passado e abrirmos nós, brasileiros, um novo capítulo na história mundial. Caminho que passe pelo que há de positivo na experiência universal, certamente. Mas que, como expressão de maturidade política, saiba dizer não aos velhos esquemas de desenvolvimento importados de fora, que em nome de um universalismo abstrato negam o caráter nacional das diversas revoluções da história mundial.
Não podemos mais assumir postura meramente defensiva e nos tornarmos cativos da trincheira. É hora de sair e tomar a bandeira do inimigo. O rompimento com o marasmo coletivo e o fim do hiato que separa o Brasil potencial do Brasil real passa, necessariamente, pela Revolução Brasileira.
Dissipando ilusões
Os últimos 13 anos representaram enorme retrocesso político e organizativo para a maioria da população brasileira. O povo, orientado por suas necessidades imediatas, embarcou na narrativa oficial de que os ganhos reais no salário mínimo, a expansão do ensino superior (predominantemente privado), as modestas taxas de crescimento do PIB e uma pretensa respeitabilidade internacional teriam caráter permanente. Subitamente o Brasil se transformara num “país de classe média”. Uma combinação ideológica que inflou a autoestima do Brasil e dos brasileiros permitindo a “paz social” que tanto encanta os capitalistas no país.
Os dados são tão impressionantes quanto ilusórios. O estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República definiu como “nova classe média”, os indivíduos com renda per capita entre R$ 291,00 e R$ 1.019,00. Portanto, não é demais dizer que nem mesmo Lula, Dilma ou seus lacaios burocratas que formularam o novo conceito gostariam de pertencer à nova classe média brasileira. Além do mais, não existe a menor possibilidade de uma nação se sustentar como país de classe média com consumo de massas quando os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) apontam que 80% da População Economicamente Ativa do país ganha até 3 Salários Mínimos, o que totaliza pouco mais de R$ 2.800,00, enquanto o salário mínimo necessário, calculado pelo DIEESE, deveria ser de aproximadamente R$ 4.000,00. Enfim, onde comanda a superexploração é impossível qualquer vestígio de cidadania!
Para além dos méritos de um governo com o mínimo de sensibilidade social, o efeito passageiro da elevação da renda da terra vivida até 2013 foi resultado de um momento excepcional do comércio internacional. Como é típico de países que não viveram processos revolucionários, a expansão econômica não alterou a relação entre economia, Estado e classes sociais. Na verdade, ocorreu o contrário: do ponto de vista político, os cargos estratégicos que Lula e Dilma concederam a personagens como Edison Lobão, Eunício Oliveira, Geddel Vieira Lima, Romero Jucá, Eliseu Padilha, Gilberto Kassab, Helder Barbalho, Kátia Abreu, Moreira Franco, José Sarney e Renan Calheiros só contribuíram para o reforço às velhas oligarquias regionais e ao caciquismo partidário; do ponto de vista econômico, a expansão baseada na renda da terra, comandada pela grande propriedade agroexportadora e o extrativismo mineral fez com que a área ocupada pelo latifúndio no Brasil quase dobrasse, avançando de 128 para 244 milhões de hectares durante os governos petistas; do ponto de vista social, a participação dos 5% mais ricos no total da renda nacional sob a condução do Partido dos Trabalhadores avançou de 40 para 47% , ou seja, a atenção às camadas populares só avançou na medida em que não foi preciso tocar num milímetro do prestígio social, na propriedade e no poder dos ricos do país.
Isto aconteceu porque, durante os últimos 20 anos, o liberalismo brasileiro de esquerda e de direita aceitou, sem contestações, a tese de que o sistema político é regido pelo malfadado “presidencialismo de coalizão”. Em linhas gerais, os partidos da ordem conformaram-se com a ideia de que a política brasileira é inviável sem um amplo acordo com base no congresso nacional, pois a sociedade brasileira seria por demais “complexa” e “diversa”. A “tese” possui clara função ideológica: é a melhor alternativa disponível para sabotar o presidencialismo como regime político e justificar o pacto entre as classes dominantes.
A Revolução Brasileira deve recuperar a força do presidencialismo real, sem coalizão. Não há que alimentar ilusões no parlamento e nas alianças que somente se justificam se realizadas com o povo. Um presidencialismo em que o poder da liderança convoque as massas e de fato altere a correlação de forças em favor das maiorias.
Aprofundamento da dependência
Do ponto de vista econômico, os últimos anos significaram uma brutal regressão do Brasil na divisão internacional do trabalho. O período devolveu o país ao fim da década de 70 em termos de perfil do comércio exterior, pois voltamos a exportar mais bens primários do que manufaturados. A participação da indústria no PIB caiu para o mesmo patamar da década de 40, período do início da industrialização brasileira, inferior a 10% . A burguesia industrial se desnacionalizou e se converteu em mera burguesia comercial parasitária: compra, monta e revende produtos importados. Por conta disso, as contas nacionais sangram, pois são drenados para o estrangeiro mais de 45 bilhões de dólares todos os anos em fretes internacionais, remessas de lucros para a sede das multinacionais, pagamentos de propriedade intelectual e aluguel de equipamentos não-nacionais.
Os investimentos no latifúndio foram turbinados, enquanto se manteve estagnada a agricultura familiar. Quando a crise capitalista reduziu a rentabilidade do capital agrário, em 2012, prontamente se conseguiu a revisão do Código Florestal, fazendo com que a expansão da fronteira agrícola pudesse compensar em volume produzido a queda nos preços internacionais. Só em 2015, já com as contas estranguladas pela crise financeira do Estado, foram destinados nada menos que 43 bilhões de reais em subvenções para o latifúndio. Não por outra razão, mesmo “contrariando seu partido”, mas em completa comunhão com sua classe de origem – o latifúndio – a senadora Kátia Abreu foi tão fervorosa na defesa de Dilma durante o processo de impedimento. Assim, os latifundiários tinham o governo Lula/Dilma e contavam também, comodamente, com o futuro governo Temer.
O capital financeiro elevou as taxas de juros a patamares estratosféricos, fazendo a festa das altas finanças que especula com os títulos da dívida pública. Acumulam riqueza com a permanente renegociação da dívida com remuneração excepcional e assim se deleitam com a maior fonte de acumulação de capital da burguesia doméstica. Nos últimos anos, os valores pagos à rapinagem financeira foram pelo menos dez vezes maiores do que o orçamento da saúde no Brasil. A força do rentismo explica o fato de o país manter a maior taxa de juros do mundo desde 1994, início do Plano Real.
O fim do pacto e a dinâmica da crise
Em 2013, as manifestações populares escancararam a crise do sistema político brasileiro, com generalizado repúdio aos partidos políticos de qualquer agremiação. Aquela surpreendente manifestação de rebeldia representou oportunidade para juntar o apelo popular a reformas estruturantes que destravassem o desenvolvimento econômico do país. No entanto, Dilma optou por lançar um pacto, junto a governadores e prefeitos das principais capitais do país, assentado sobre 5 pontos: a manutenção do compromisso com a política de corte de gastos, reforma política, saúde, educação e transporte. Com o primeiro – a “responsabilidade fiscal” – a presidente ratificou que se manteria fiel aos pilares do projeto econômico da classe dominante, aniquilando qualquer chance de êxito dos outros quatro.
A manutenção do rentismo exige compromisso com a austeridade fiscal que deita raízes sobre a Lei Complementar n. 101, chamada de “lei de responsabilidade fiscal”. Desde 2000, a lei estrangulou as contas dos estados e municípios e a população acompanhou um acelerado processo de sucateamento da prestação de serviços de saúde, educação, transporte e segurança cujo objetivo é a privatização das empresas estatais do setor de serviços que ainda restaram aos estados, exemplo do Barisul no Rio Grande do Sul ou Cedae no Rio de Janeiro.
Em resumo, o PSDB criou o Plano Real e o PT assumiu o poder introduzindo na lógica de acumulação de capital na periferia o atendimento da questão social. Mas o respeito à austeridade fiscal permite apenas migalhas para o atendimento das demandas sociais, fato que pode ser observado quando o principal programa social do governo -o Bolsa Família - consome meros 0,47% do PIB, enquanto o custo da dívida leva quase 9% da renda nacional anualmente para os banqueiros. Foi neste contexto que o petismo representou tão somente uma perversa modalidade de “digestão moral da pobreza” na qual os trabalhadores permaneceram submetidos à superexploração da força de trabalho - garantia de super-lucros à todas as frações do capital - mas foram compensados com programas sociais, que eternizam os pobres como mera força de trabalho à inteira disposição da reprodução ampliada do capital.
No terreno da consciência ingênua, cuja melhor expressão é o comportamento e discurso do eleitorado petista, criou-se a esperança de que, renovada a confiança eleitoral em 2014, Dilma finalmente daria uma “virada à esquerda” no segundo mandato. Aquela virada que a consciência ingênua esperava desde o governo Lula, mas que o líder do partido nunca quis fazer, pois não estava disposto a arriscar seu prestígio junto à classe dominante para cumprir uma função esperada historicamente pela militância. Como um portador crônico de dislexia, sempre que desejava uma guinada à esquerda, o petismo rumava mais e mais à direita.
Como já era de se esperar, os cortes só fizeram crescer a crise brasileira. Com a notícia de que o Produto Interno Bruto havia caído 3,8% em 2015, a burguesia brasileira apertou o gatilho e bradou: “vamos ao golpe”! Agravidade da crise econômica não era mais compatível com o ritmo lento do PT em fazer as reformas necessárias em favor da acumulação de capital. Dilma e o PT deixam o governo não por suas virtudes na execução das “políticas de inclusão social”, mas precisamente pelo esgotamento de sua capacidade de condução do projeto burguês do país, pautado na modalidade de aliança de classes com subalternização dos trabalhadores e ausência de protagonismo popular.
A que herança renunciamos?
A Revolução Brasileira renuncia à herança que abandonou a luta contra a dependência e o subdesenvolvimento. É preciso ter consciência de que a busca pela efetiva soberania nacional jamais poderá ocorrer sob a ordem burguesa, a despeito das virtudes de um e outro governo. Os dois mandatos de Lula e, depois, a eleição de Dilma nos deixam a lição de que governos de composição de classe orientados pela governabilidade e sem perspectiva de ruptura com a ordem burguesa servem exclusivamente para acomodar os interesses das classes dominantes com renovada e finita legitimidade. É preciso recuperar, portanto, a perspectiva da longa duração e das lutas nacionalistas e revolucionárias.
O pacto de classes promovido pelos governos do PT teve largo efeito sobre as direções do movimento sindical e social. Abandonou-se o horizonte transformador radical, a luta pelo socialismo que embalou a origem da CUT e do MST. Adotou-se a regressão política dos diálogos sociais, as mesas tripartites, as negociações coletivas sem conflito, enfim, a restrição da luta política da classe trabalhadora aos ditames restritos dos gabinetes, promovendo uma ruptura sem precedentes entre a classe e as burocracias sindicais. Aqueles sindicatos que surgiram combativos, frutos da classe trabalhadora em luta, foram pouco a pouco cedendo a radicalidade para a política de “defesa da governabilidade”. Abandonaram a formação política e bloquearam internamente o marxismo, por determinação das cúpulas dirigentes, muito antes da eleição de Lula em 2002. Abraçaram a formação tecnicista dos seus quadros, rebaixando a vanguarda dirigente da classe trabalhadora a mera burocracia da estrutura sindical. Era uma clara estratégia de desarmar a classe trabalhadora para poder conduzir com maestria o pacto de classes a favor da burguesia.
Após a eleição de Lula, rebaixaram sistematicamente o horizonte da política sindical. A atividade política dos sindicatos e movimentos sociais, que precisa ter um caráter eminentemente emancipatório, rompendo com a alienação do cotidiano capitalista, foi silenciosamente transformada em defesa das políticas públicas do governo. Ou seja, a tão almejada autonomia sindical, um dos fundamentos da origem da CUT, foi substituída pelo sindicalismo de Estado, pelo sindicalismo de resultados e por algo extremamente deletério para a classe: o sindicalismo empresarial atrelado ao rentismo, onde dirigentes sindicais passaram a ser gestores de poderosos fundos de pensão, trazendo uma nova razão de funcionamento para os sindicatos, totalmente contraditória às lutas dos trabalhadores.
Os sindicatos ficaram cativos de suas próprias ilusões. A Revolução Brasileira faz um chamado aos dirigentes sindicais e sociais ainda combativos, para que possamos juntos restituir o papel do militante combativo e transformador, liderança perante as bases, refundando um movimento sindical e social poderoso, que possa ser um alicerce do avanço e resistência na atual guerra de classes.
Renunciamos à herança dos que não fizeram a real batalha da comunicação. Os governos petistas não só não encamparam a luta contra os monopólios midiáticos como endossaram a cobertura da imprensa dominante. Quando se viram desassistidos e na iminência da perda do poder, “descobriram” que os grandes grupos de comunicação tinham descartado a alternativa petista. Temos profunda clareza de que a cobertura midiática dominante não guarda qualquer relação com as demandas populares, senão com a representação de seus próprios interesses. Possui uma agenda política definida e, como classe dominante que é, apresenta soluções profundamente anti-povo. Cientes de que a corrupção é a regra do sistema político, mídia e sistema financeiro fabricam uma opinião pública dócil e compreensiva. No entanto, a narrativa fantasiosa já não produz o mesmo efeito.
Também julgamos fundamental renunciar à herança que reduz o pensamento de esquerda à busca pela justiça social. Governos assentados sobre as políticas públicas como forma de correção das injustiças e desigualdades produzidas pelo capitalismo cometem o erro histórico de considerar a população como objeto, e não como sujeito da política. Sem o devido caráter emancipatório que deve acompanhá-la, a busca pela justiça social, como tal, só alcançou horizontes limitados nos países avançados e bastou a crise capitalista de 2008 para varrer as garantias e acentuar a luta também no centro do sistema. Na periferia capitalista, é preciso mais do que nunca perceber que tais elementos de justiça social são absolutamente impraticáveis. Não há conciliação possível entre os detentores dos meios de produção e os trabalhadores. O governo atuou, por algum tempo, concedendo benefícios às elites no atacado e concessões ao povo no varejo. Logo veio a crise capitalista e deixou cristalina a natureza do sistema: os interesses de patrões e empregados são divergentes e inconciliáveis. Atuemos, portanto, em consequência: é chegada a hora da Revolução Brasileira.
Os desafios da esquerda e nossa opção pelo PSOL
A natureza da crise atual impõe exigências que há muitas décadas não se apresentavam para os trabalhadores e a esquerda brasileira. Não sofremos a maior crise da história do país como indica a direita; a Revolução de 30 e a deposição do governo nacional reformista de João Goulart com a ditadura de 1964 foram resultados de crises muito mais profundas e amplas. A primeira abriu as portas para o desenvolvimento do capitalismo e as instituições decisivas para o país. A segunda, interrompeu a mais profunda experiência reformista de nossa história e exibiu os limites do reformismo político. No entanto, a diferença especifica da crise atual reside no fato de que se trata de uma crise financeira do estado e não mero resultado da crise fiscal como pretendem ideologicamente os liberais (de direita e esquerda). Em resumo, afirmamos que entrou em crise o sistema político que sustentou a dominação burguesa até o momento, ou seja, o sistema petucano. É uma crise em que os pactos e a política de aliança possuem espaço reduzido para ganhar milhões de trabalhadores e as classes médias empobrecidas. A desnacionalização e redução da indústria, o caráter rentista do desenvolvimento capitalista, a ampliação da renda da terra, o assalto ao estado com mão cheia por meio da dívida pública e do endividamento externo implicou na declaração de guerra contra os trabalhadores por parte da classe dominante. Toda e qualquer tentativa de “mediação” somente favorecerá a classe dominante e implicará necessariamente em perdas materiais e do grau de consciência para a classe trabalhadora. Neste contexto, a esquerda brasileira está chamada à renovação radical da práxis política e de seu programa.
Neste contexto, o PSOL tem méritos indiscutíveis, pois é partido que permite e, no limite, exige o exercício da crítica, além de espaço de experimentação de uma nova práxis que necessitamos produzir. No entanto, não se trata apenas de reconhecer o PSOL como uma frente política, mas de lutar no seu interior para a afirmação plena do socialismo como horizonte de nossas lutas e compromisso permanente da militância. Assim, observamos que o PSOL poderá ser valioso instrumento para a consolidação do Programa da Revolução Brasileira e somaremos esforços com milhares de outros militantes que já trabalham arduamente nesta direção e com este propósito.
O PSOL está convocado pela situação histórica a enfrentar este enorme desafio. Também participam deste horizonte o PCB, o PSTU, o PCO e o PPL. A esquerda é chamada a unificar a luta de massas em função da ofensiva burguesa, mas sobretudo atualizar o programa da Revolução Brasileira sem o qual se tornará inútil o “espirito crítico” de “organizações de esquerda” que na prática reforçam a razão de estado e limitam o avanço da consciência crítica e socialista do trabalhadores. O horizonte da esquerda não pode ser o de limitado espirito crítico do liberalismo ou ainda sua “ala esquerda”.
Nos países centrais esta linha representou a incorporação dos partidos socialistas à lógica da social-democracia europeia e, nos países periféricos, sob condições de dependência e subdesenvolvimento, não passa de farsa cínica. Um auxiliar da dominação burguesa cujas consequências observamos agora sob os escombros do fracasso histórico da política petista. É preciso entender que não devemos aceitar a correlação de forças supostamente adversa como justificativa para perpetuar formas de organização superadas historicamente.
É tempo da Revolução Brasileira. É tempo de novo radicalismo político, que já se manifesta de maneira plena na greve dos garis do Rio de Janeiro, nos metroviários em São Paulo, nos municipários de Florianópolis, nas ocupações das escolas em vários estados do país. É tempo de nova práxis marcada pela disciplina e exemplo dos militantes nos sindicatos, nas organizações estudantis, nas ocupações, nas associações de bairros, etc. O Programa da Revolução Brasileira exige um novo perfil de militância e renovado respeito pelo caráter de massas de entidades dos trabalhadores. A partidarização de sindicatos deve ceder espaço para a consciência crítica para além dos partidos atuais, inclusive do próprio PSOL.
Decidimos assumir o PSOL para implementar um debate necessário entre a tradição nacionalista tão vilipendiada pela direita em nosso país e o marxismo, tão diminuído nas filas da esquerda e no seio das classes subalternas. Decidimos assumir o PSOL para não permitir a morte da cultura nacional diante da ofensiva da indústria cultural metropolitana, especialmente estadunidense. Reivindicamos o caráter revolucionário que o nacionalismo pode assumir na periferia capitalista como parte indissolúvel da luta socialista, tal como demonstram as revoluções vitoriosas na história mundial.
Concordo plenamente com os argumentos aqui apresentados. Só sinto que as eleições tenham uma peso muito grande nas ações do PSOL Sem desprezá-las, é claro, mas tenho a convicção que só teremos resultados eleitorais efetivos, quando as eleições deixarem de ser prioridade.
Precisamos desenvolver uma comunicação clara, objetiva e direta, que atinja a realidade das massas e provoque o despertar da consciência critica. O desafio é trazer simplicidade na comunicação pra um tema tão complexo que é o sistema de super exploração do trabalho e das finanças na periferia do sistema, disseminando esse conhecimento pro maior número de pessoas, necessárias para compormos a grande massa crítica fundamental pra revolução brasileira.
Os 3 últimos parágrafos dos títulos “A que herança renunciamos” e “Os desafios da esquerda e nossa opção pelo PSOL” são idênticos (de “Os sindicatos ficaram cativos de suas próprias ilusões. (…)” até o final.
O que entendi do manifesto:
– Presidencialismo de coalizão é ruim;
– Qualquer conciliação entre classes é impossível;
– O sindicalismo precisa retornar às origens combativas;
– Militância de base é importante;
– Visão crítica é importante.
O que não entendi:
– A proposta. Presidencialismo, com outra “roupa” é desejável? O objetivo é o socialismo marxista?
Uma youtuber chamada Natalie Wynn expressa muito bem minha dúvida no vídeo “The Left”, do canal Contrapoints (em inglês, com legendas em português e outras línguas).
O manifesto reforçou minha opinião prévia que revolução é não só possível como necessária. Quero me dedicar a ela. Tenho tempo e disposição. Acredito que minhas limitações podem ser contornadas.
Por favor, me corrijam se houver alguma incorreção na parte “o que entendi” 🙂
Vou fazer uma visita ao diretório do PSOL da minha cidade. Sou filiada ao PCB desde 1989, mas não tem diretório aqui e eu funciono melhor com conversa presencial…
Aguardo resposta por e-mail!!! Gostei muito do manifesto – parabéns aos redatores!
Abraço e tamojunto!!!
Boa noite Adrea, é uma satisfação pra nós ler a sua mensagem. Em qual cidade você reside? Entraremos em contato com o coordenador da sua região para conversar contigo. Grande abraço!
Caros, algo me incomodou no texto do 2° parágrafo: ” Esta guerra de classes contra o povo começou entre 2014 e 2015, quando Dilma…” . O próprio texto mais a frente denuncia o sistema petucano, então por que a guerra de classes inicia em 2014? Sou de Americana /SP.
Olá Jones, curiosamente, foi o mesmo ponto que me incomodou em todo o Manifesto, muito bem redigido por sinal (fora este detalhe).
Querer datar a nossa luta de classes que vem de muito tempo atrás, chegando a ser secular, desde a formação do nosso povo, com a invasão dos europeus vilipendiando nossas riquezas naturais e escravizando mão de obra para seus interesses não me pareceu apropriado.
Mas se quisermos ser mais contemporâneos, o início mais recente deste embate de classes entre o Estado a serviço do grande capital e o povo oprimido foi ali no Junho de 2013 quando o governo petista não encampou as demandas enraizadas da sociedade que eclodiram pro todo o país. Ao contrário, combateu com violência, não sentou para dialogar e acabou abrindo um espaço enorme (quase que de bandeja) para o oportunismo mais radical da direita e o ultraliberalismo. Ali, sem sabermos, era o “começo do fim”.
Jones Pizzol, senti esse mesmo incômodo nesse texto do segundo parágrafo. Por que adotar o período entre 2014 e 2015 onde tudo tenha começado se a chamada guerra contra a classe trabalhadora e o povo em geral vem de longas datas?
Quero estar com essa corrente de pensamento e me orientando pela Revolução Brasileira. Conte Comigo!
Me chamo Carla, carioca da gema, que hå quase 10 anos adotei a cidade de Niterói. Concordei com toda a análise de 2002 pra cå. Entretanto, alguns pontos carecem de atenção na análise:
1- a questão do nacionalismo/nacional-desenvolvimentismo e 2- a capitalização dos sindicatos do setor industrial. Acredito que talvez um manifesto político nāo comporte algumas discussões mais epistemológicas, mas que possuem um grande impacto na práxis dos movimentos sociais . Confesso que o mais me atrai aqui é a defesa do Socialismo sem vergonha de se assumir! Aqui nesse manifesto, foi o Socialismo que saiu do armårio!
Sou professor de Sociologia da Rede Pública de Educação do RN e aluno do curso de Direito da UFRN. Foi no processo de realização de um mestrado em Serviço Social que conheci o Prof.º Nildo Ouriques. De lá para cá, venho acompanhando de perto o grupo da Revolução Brasileira por meio, principalmente, das intervenções de Nildo, mas só agora, após uma live da qual participou a Professora Angélica Lovato com sua provocadora fala acerca do limite da ação puramente intelectual e distante da realidade da luta política, resolvi encaminhar a minha filiação, não só ao sindicato dos professores, como também, ao PSOL, com o intuito de me agregar à luta entre os quadros que compõem a Revolução Brasileira.
Sou professor em SP e filiado ao PSOL e vejo que a RB é a única saída para a nossa sociedade e, isso é evidente quando observamos o ápice da barbárie com este atual governo, da ideologia ultraliberal ao fascismo, do racismo à continuidade do projeto imperialista de privatização e de destruição do meio ambiente, enfim, da tanatopolítica com o menosprezo com a vida de outro e dos outros. Contem comigo!!!
Me vi nos comentários de Andreia Lelis com o seguinte parágrafo: O manifesto reforçou minha opinião prévia que revolução é não só possível como necessária. Quero me dedicar a ela. Tenho tempo e disposição. Acredito que minhas limitações podem ser contornadas.
Camaradas da Revolução Brasileira,
é preciso atualizar e relançar o manifesto com novas críticas ao PSOL, PCO et caterva, particularmente agora que a RB definiu sua saída do PSOL.
Minha pergunta a um camarada da RB: “por que a RB manterá a primeira versão do seu manifesto para essa nova turma com a seção “Os desafios da esquerda e nossa opção pelo PSOL” apesar de ter rompido com ele? Por que não divulgam uma nova versão atualizada? Faria um texto avaliando desde o governo FHC, a partir do qual muita coisa se agravou para a classe trabalhadora, mantendo efeitos deletérios e acumulando outros dos governos posteriores até o de coalizão presente Lula/Alkmin, deixando claro também o nosso rompimento com o PSOL e os motivos”. Sua resposta: “A coordenação decidiu incluir o manifesto original para que os novos participantes possam ter uma perspectiva histórica da origem da organização, mesmo que o texto esteja defasado”.