“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.” (O 18 do Brumário, de Karl Marx)
Há 204 anos, em 05/05/1818, nascia Karl Marx, e a maior homenagem que prestamos a esse gigante é estarmos inspirados por sua práxis todos os dias, o que faz de nós, como diria Brecht, imprescindíveis.
Marxismo não é um ponto de vista. É uma práxis, fundamentada sobre a realidade material, enxergada a partir das raízes de seus problemas particulares, e atuante na resolução radical dos mesmos. Ser marxista é muito diferente de ser marxólogo. O marxólogo é aquele que se deteve ao ambiente universitário, que enxerga o marxismo como enxerga ao positivismo, ao liberalismo, ao estruturalismo, etc.: “apenas mais uma escola de pensamento, no qual sou cativo”, e, portanto, se aliena do conteúdo das restantes e aliena a partir de sua concepção academicista e eurocêntrica de marxismo.
Muitos ao lembrar hoje de Marx, na academia ou na política, praticamente sepultam de vez suas maiores contribuições, haja visto que aquele maniqueísmo que analisara n’A Sagrada Família continua radiante na realidade atual, e a política, reduzida à forma e ao conteúdo vulgar eleitoral.
Ser marxista é estar em constante contato com a crítica. Isso significa, como afirmava Engels, que não pode ser associado à religião, como se um grupo fosse marxista e outro, liberal, por escolhas próprias e de respeito mútuo. No marxismo, lidamos com disputas de classes, originadas no capitalismo, sem espaço para orgulhos burgueses típicos da academia. Não existe espaço para decoro e bom-mocismo. Estamos em plena guerra com o sistema que deu origem ao subdesenvolvimento brasileiro e latino-americano.
O marxismo é, para nós, o que o iluminismo foi para os burgueses, inspirados em Hobbes, Locke, Rousseau, Kant, Voltaire, Malthus, etc.: a ciência da revolução. O iluminismo analisou as contradições internas ao regime absolutista. O marxismo, por sua vez, ao capitalismo. E, assim como os iluministas, trabalhamos sobre crises, como foi na França do séc. XVIII, que se refletiu nas condições concretas de uma população que sofria com as guerras e com as estiagens. E exatamente pelo iluminismo ter sido pensado à luz da realidade europeia, jamais se encaixou em realidades díspares, somada à própria natureza do capitalismo de, parafraseando Marx, divisão social e internacional do trabalho.
É o que faz termos Engels, Lênin, Rosa Luxemburgo, Gramsci, Lukacs, Althusser, Horkheimer, Kim Il Sung, Alexandra Kollontai, Trotsky, Clara Zetkin, Stalin, Amílcar Cabral, Nkrumah, Mao, mas também Mariátegui, Fidel, Chávez, Álvaro Vieira Pinto, Fanon, Nelson Werneck, Marini, Edmundo Moniz, Vania Bambirra, Moniz Bandeira, Leandro Konder, Milton Santos e tantos outros que estudaram a fundo a realidade na qual se inseriam.
É o que faz da revolução cubana tão autóctone, autêntica e com apoio massivo da população. Conduziram sua própria história, não precisando cair na ilusão do Leste europeu soviético, com revoluções importadas e alheias às contradições existentes nas realidades específicas.
Ser marxista é ser um utópico que nunca deixou de sonhar com os pés no chão. Toda revolução feita foi dada antes como impossível. São originais, e originais como elas mesmas são, baseadas na autodeterminação dos povos e na cooperação multilateral anti-imperialista.
Entretanto, não nos iludamos: conhecer Marx é fundamental na práxis política, mas não basta por si mesmo na interpretação de nossa realidade. A luta de classes no Brasil adquire outro caráter frente às analisadas por Marx ou Engels na Irlanda, na Prússia, na França ou na Inglaterra, tendo em vista o papel que exercemos no mercado global e o caráter exógeno de nosso Estado republicano, ainda que se tenha um povo novo. É preciso estar em constante atualização e interpretação que nosso contexto histórico-geográfico demanda.
Nossos caminhos não serão outros, senão os brasileiros.
André Ferreira
Militante da Juventude pela Revolução Brasileira no Rio de Janeiro