Nota sobre a destruição do Museu Nacional

Nota sobre a destruição do Museu Nacional

 

A noite do último domingo marcou a história nacional como uma noite de tragédia para as ciências no Brasil. O incêndio que atingiu o Museu Nacional destruiu não só parte do legado científico da humanidade mas, mais concretamente, parte do patrimônio científico do povo brasileiro e latinoamericano.

 

Tal fato gera profunda indignação, não só nos profissionais e estudantes ligados mais diretamente à instituição, mas à toda a população. Porém, o chamado “descaso” por parte dos governantes, expresso nas reduzidíssimas verbas destinadas à manutenção do Museu Nacional não pode ser entendido apartado da totalidade da conjuntura política e econômica nacional.

 

O que esperar quando a classe dominante alardeia aos quatro ventos que “o agro é pop, o agro é tech, o agro é tudo”?? Ora, o bordão da Rede Globo apenas anuncia, em forma ideológica, que uma guerra de classes está instaurada, pois o projeto da classe dominante é transformar o Brasil num imenso latifúndio, aprofundando ainda mais nosso papel na divisão internacional do trabalho como país dependente e subdesenvolvido, exportador de produtos agrícolas e minerais, que não necessita, portanto, nem de grande ciência, sistemas de pesquisa, muito menos de universidades de excelência.

 

É a partir desta guerra de classes que a destruição do Museu Nacional deve ser compreendida. O chamado “descaso” dos governantes para com a instituição é, portanto, uma forma ingênua de compreender aquilo que, na realidade, é um projeto consciênte da classe dominante empreendido pelo atual sistema político falido a seu serviço.

 

Outro ponto a se destacar é que, apesar de moribundo, o petismo ainda tenta vitalizar o discurso do “golpe”, instrumentalizando a tragédia do Museu Nacional a seu favor, afirmando uma pretensa e radical descontinuidade entre os governos petistas e o atual governo Temer. Contra isso basta, simplesmente, recordar o estelionato eleitoral cometido pela presidente Dilma em 2014 que, após se opôr ao programa dos tucanos durante sua campanha eleitoral, assume o programa do inimigo, fato expresso na nomeação do lacaio do rentismo Joaquim Levy e da latifundiária Kátia Abreu para seu ministério.

 

A continuidade, naquilo que é essencial, entre os governos petistas e tucanos, o consórcio PTucano, se evidencia também, claramente, no que tange à pesquisa científica no Brasil. Apesar de ter gozado de maiores verbas nos governos petistas, as universidades públicas brasileiras permaneceram submetidas ao regime de sucateamento, expresso tanto nos grandes programas de subsídio às universidades particulares, quanto no regime da fuga de cérebros, expresso no programa “Ciência Sem Fronteiras” e no sistema CNPq e Capes, hoje tido como fracassado por sua própria diretora de avaliação.

 

No interior da atual guerra de classes, portanto, o desenvolvimento da ciência no Brasil se encontra num estado de profunda indigência, manifesta tanto na alienação e na miséria intelectual que assolam as universidades brasileiras, quanto no episódio do incêndio do Museu Nacional.

 

Dado o cenário, empreender ações de resistência é insuficiente para reverter a situação. É necessário aliar uma ruptura radical com o papel do Brasil na divisão internacional do trabalho, com nosso raquitismo tecnológico e científico, com a alienação que habita as universidades brasileiras, concentrando todo nosso magnífico potencial intelectual na direção do desenvolvimento da nação e de nosso povo.

 

É a essa ruptura radical que chamamos de Revolução Brasileira. Sem ela nosso destino inevitável será seguir lamentando, impotentes, perante mais e mais tragédias como a destruição do Museu.

 

REVOLUÇÃO BRASILEIRA – Corrente do PSOL

 

 

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