Posicionamento da JRB sobre as Eleições do DCE Mário Prata UFRJ: não adesão e voto nulo

 Ao afirmar-se contrária a todas as chapas propostas nas eleições do DCE Mário Prata UFRJ 2022, a Juventude pela Revolução Brasileira não se propõe a aderir ao imobilismo e ao voto nulo por si próprio, tampouco a não propôr. Na realidade, a não adesão da JRB é uma expressão não isolada do nosso rotundo rechaço a tudo que aí se apresenta, sob formatos de discursos repetitivos, vazios e com graves deficiências de compreensão das demandas estudantis e da conjuntura nacional e internacional, o que explica o cenário desolador de despolitização da classe estudantil.

 Marcada pelo conturbado contexto eleitoral de 2022, as eleições do DCE Mário Prata são quase expressão parlamentar desse cenário, com grande notoriedade de jovens pretendentes a cargos eleitorais. Como tais, as pautas centrais e os debates críticos não deixam sequer rastros. Pelo contrário, são vendidos, com toda a pedagogia política que uma eleição de DCE poderia apresentar, em troca de uma defesa abstrata da educação, da legitimação da dominação de classes que incide de dentro para fora da universidade e das pautas identitárias que segregam a totalidade da luta estudantil.

 Com o conteúdo visto das propostas das chapas, não se vê apenas a aceitação passiva de uma universidade que não chega a 20% dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos, mas a incapacidade de resposta às demandas reais e concretas de acesso e permanência na universidade. Ao não tocarem na crítica e no tom destrutivo do vestibular, um mecanismo de afunilamento e segregação estudantil que deixa sua imensa maioria fora dos muros da universidade, compactuam com a universidade elitista que tanto julgam condenar. Assim, a legitimam, a partir da defesa e da ampliação das cotas na graduação e na pós-graduação disfarçada cómo “política de acesso” para, ao final do processo, formar futuras classes trabalhadoras superexploradas, sem perspectiva de emprego e que tampouco pensam em sua realidade e como podem incindir na mesma, reflexo de um ensino de baixíssima qualidade e extremamente alienado e alienante. Em síntese, assumem a cumplicidade de uma estrutura universitária restrita a poucos e impressora de diplomas que atestam sua própria ignorância diante do movimento das classes.

 Em termos de medidas concretas, tais quais os famigerados bilhetes únicos universitários (BUUs), chovem no molhado, na medida em que ofuscam a realidade monopolista privada que assumem hoje os transportes públicos. Com expectativa de resposta ao problema da mobilidade urbana, sugerem o financiamento subsidiado do Estado às máfias privadas do transporte público carioca, aumentando o lucro dessas empresas que controlam ao seu bel-prazer tanto os preços das passagens quanto o número de frotas que estarão circulando nas ruas, o que reflete na realidade concreta vivida pelos estudantes: limitadas linhas de ônibus, ônibus cheios, passagens cada vez mais altas e estruturas de transporte pífias que põem a própria vida do estudante em risco. Em outros termos, os reflexos da amaldiçoada herança da gestão petista, que preferiu assumir as parcerias público-privadas, em que o Estado assume os riscos e as empresas, os lucros, a fornecer um programa de estatização do transporte público convocando sindicatos e organizações estudantis para o debate. O rumo desse debate só tem uma via: a estatização, que vincula o estratégico setor de transportes aos interesses da população.

 As medidas propostas, mesmo as tímidas estruturais, sequer tangenciam os problemas centrais que circundam a UFRJ. Sob o esquecimento dos debates da Reforma Universitária e do fim do vestibular preconizados pela UNE antes do golpe empresarial-militar de 1964, a interpretação da crise universitária se limita à efêmera passagem de governos, enquanto seu escopo é inquestionável diante da História e da contradição insuperável da expansão do ensino superior público na periferia do sistema capitalista, sobretudo aquele comprometido com a consciência e realidade nacional.

 Ao proporem as eleições de 2022 ou a eleição de si próprios como possíveis soluções para o precipício que a universidade se inseriu, não enganam apenas os militantes estudantis, como a si mesmos, criando falsas esperanças que afastam ainda mais o movimento estudantil da luta política real. Enquanto problema de Estado, a universidade vista nos moldes atuais deve ser condenada ao fim pelos estudantes que, a partir da mobilização de massas para a construção da Revolução Brasileira para sua transformação, assumem o compromisso de institucionalizar um novo modelo universitário, comprometido em entender os principais problemas relacionados à realidade brasileira e inclinado a resolver os mesmos, independente de financiamentos privados, como a superação da dependência, do subdesenvolvimento e da superexploração do Brasil, da América Latina e da classe que assumimos as rédeas de emancipar.

 Por outro lado, na defesa da universidade aos moldes da gestão petucana, se cria uma versão apartada da realidade histórica da universidade e oculta seus reais custos. Se ignora o fato, por exemplo, de que irresponsáveis medidas como FIES, ProUni, Ciências Sem Fronteiras, etc, falsamente atribuídas como medidas de “inclusão” na universidade, na realidade, além de manterem e legitimarem a exclusão da imensa maioria da população de seus muros, tiverem participação proativa no aumento da dependência e do subdesenvolvimento brasileiros, na medida em que se aumentou o entreguismo científico e tecnológico às revistas e universidades ditas “internacionais”, que, efetivamente, são norteamericanas, europeias, japonesas ou de outros países centrais. Além disso, as “iminentes ameaças” de privatização nas universidades públicas, tais quais a UFRJ, não são, nem de perto, a principal ameaça privatista que cerca seus muros. Efetivamente, a redução do custeio público às mesmas já ocorre real e aceleradamente à medida em que se avançam os ensinos remoto e técnico, que atuam diretamente na formação disforme de trabalhadores que irão servir como mão-de-obra barata para transnacionais das engenharias ao agronegócio. Desta forma, a universidade, além de 100% pública, sendo um recurso estratégico para o Estado e não primordialmente um canal de ascensão social, não deve expressar nem receber nenhum interesse ou fundo privado, estando vinculada única e exclusivamente à realidade que a circunda e, para tanto, impossível de ser autônoma.

 Sob outro prisma, não surpreendentemente, em nada se pautaram sobre reformas estruturais urgentes da universidade, como a reforma curricular, orientada para um ensino voltado à tradição crítica da realidade brasileira e latino-americano (sem a qual não há possibilidade de integração regional que afronte aos interesses externos) e da formação para um mercado de trabalho voltado para o desenvolvimento interno a partir da superação da dependência. Sequer se menciona a doutrina da universidade, que se vê e é vista como incapaz de caminhar sobre seus próprios pés, dependendo de financiamentos dos países centrais e de empresas transnacionais que em nada estão comprometidas com os anseios de nosso povo. Com isso, o currículo universitário que se apresenta atua como hostil ao surgimento e à organização da classe a quem a universidade devia servir,  impedindo a imensa maioria da população de encontrar expressão lógica e científica nas metodologias universitárias, restando a elas aderir ao seu sistema alienante, ascender socialmente com privilégios destinados à aristocracia acadêmica e esterelizar suas lutas e as demandas de seus lugares de origem.

 Portanto, as chapas proponentes não assumem para si a tarefa revolucionária a que a universidade necessita para tornar seus olhos ao seu povo. Acomodadas com as concessões chulas da gestão do liberalismo de esquerda e de direita, que se mostrou incapaz de responder às crises expressas na economia, na política e na universidade atual, atribuem a culpa aos transitórios governos, não pautam as condições concretas dos jovens brasileiros e se vêem num beco sem saída diante das saídas e das interpretações ao se proporem como mediadoras de governos e não de lideranças de suas próprias lutas. Não se tratam de novidades: é sintomático de um movimento estudantil que optou por restringir sua esfera de atuação à institucionalidade burguesa e ao “diálogo”, ao invés de trazerem respostas urgentes e de longo prazo a um problema natural de um sistema subordinado e tacanho tal qual o capitalismo dependente rentístico brasileiro e os rumos para a superação da dependência, do subdesenvolvimento e da superexploração que assumem um caráter notório e particular na universidade burguesa brasileira.

André Ferreira

Militante da Juventude pela Revolução Brasileira do Rio de Janeiro

 

 

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