A Petrobrás e os fertilizantes

 O recente conflito entre Rússia e OTAN fez suscitar no Brasil (até mesmo nos jornalões burgueses) a discussão em torno da dependência do país na importação de fertilizantes (em especial dos grupos NPK – nitrogenados, fosfatados e potássicos). O Brasil consome anualmente cerca de 43 milhões de toneladas, sendo aproximadamente um terço para cada grupo. É o maior importador de fertilizantes no mundo, comprando até 85% daquilo que consome. A dependência do mercado estrangeiro é aberrante: o Brasil importa até 95% dos fertilizantes nitrogenados (comprando de Rússia, China e Oriente Médio), até 75% dos fertilizantes fosfatados (adquiridos da Rússia, China e Marrocos) e até 95% dos fertilizantes potássicos (vindos da Rússia, Belarus e Canadá). 

 Essa dependência se mostra ainda mais dramática num cenário como o presente, em que a queda das importações pode levar ao aumento dos preços dos alimentos – seja pela elevação do preço dos fertilizantes importados seja pelo impacto negativo nas colheitas em caso de desabastecimento. 

 Esse impacto poderia ser atenuado caso a Petrobras, hoje nas mãos de uma camarilha ultraliberal, não estivesse nos últimos anos se desfazendo de suas fábricas de fertilizantes nitrogenados. As operações ocorrem sempre de forma suspeita e lesiva ao patrimônio público – mas sempre com a benção do STF e TCU. A estatal, que já vem se retirando do mercado de fertilizantes nitrogenados desde 2015, vem acelerando o processo desde então com a hibernação das unidades do Sergipe e Bahia em 2018 (e que foram arrendadas em 2020 pela Proquigel Química, pertencente ao grupo Unigel) e da unidade no Paraná em 2020 (esta última motivando a mobilização grevista em fevereiro do mesmo ano). Uma outra unidade de nitrogenados, a UFN3, situada em Três Lagoas (MS), cuja construção foi iniciada pela Petrobrás  (sendo paralisada com 80% das obras concluídas em 2014) foi adquirida recentemente por um grupo de investidores russos da Acron.

 Mesmo no setor privado a desnacionalização pode comprometer ainda mais o mercado interno. Nos últimos cinco anos a multinacional suíça Eurochem fez três aquisições de indústrias do ramo de fertilizantes no Brasil, como a Fertilizantes Heringer, Fertilizantes Tocantins e a Serra do Salitre.

 Um país de produção agrícola tão elevada se mostrar tão suscetível às flutuações na dinâmica internacional é um sintoma crítico da dependência e do subdesenvolvimento característicos de nosso país, sempre entregue aos desígnios de uma classe dominante subordinada aos interesses estrangeiros. A falta de uma postura de confronto com o liberalismo – em especial por parte da esquerda – leva à manutenção deste quadro de dependência que resulta em graves prejuízos à população brasileira, diariamente vítima deste assalto em detrimento da acumulação de uma minoria – vide a própria Petrobrás, uma empresa estatal que hoje faz um papel de Robin Hood às avessas, assaltando a população com preços exorbitantes na venda de combustíveis e outros derivados, praticando preços atrelados aos valores internacionais, mesmo sendo quase auto suficiente em sua produção, tudo isso para garantir a remuneração de acionistas privados (a maioria estrangeiros). 

 Esse cenário só poderá mudar quando a esquerda estiver orientada em atender os interesses e soberania do povo brasileiro. Para tal, deve assumir uma postura de confronto com o grande capital, promovendo reformas e nacionalizações e não subordinando-se a ele numa política ilusória de conciliação de classes. A esquerda precisa urgentemente debater a Revolução Brasileira. Precisa tematizar sobre o poder, e não sobre governos. Essas questões não se resolvem com alianças eleitorais. Resolvem-se, ao contrário, com a Revolução. Tendo como aliados os trabalhadores, não seus algozes.

 

 

 

Spread the love

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.