Alienação energética nos trópicos – Entrevista com Gilberto Felisberto Vasconcellos

“Sem teoria revolucionária, não há movimento revolucionário.” V.I. Lênin

 

Nosso partido é no mínimo sui generis. Há quem diga que navega sem bússola, e disso não há como discordar. As opressões impostas pelo modo de produção capitalista são setorizadas: feminista, lgbt, devem existir outras e, pasmem!, os que discutem “meio ambiente” formam o que chamam setorial ecossocialista. Ou seja, a porta de entrada já é um nome agringalhado, imediatamente aceito.

 

A setorial ecologic do partido em sua esmagadora maioria tem embasamento teórico dos ‘ecossocialistas’ de primeiro estágio, como Michel Löwy e Daniel Tanuro. Os que chegam a acessar a ecologia de Marx estacionam e tecem loas aos estadunidenses Jonh Belamy Foster e Tom Burket. Não que estes não tenham seus méritos, têm, devem ser lidos, estudados, discutidos. A novidade que tenho para contar é que temos teoria nacional marxista e TROPICAL, e o maior intelectual vivo deste país é o entrevistado da conversa transcrita logo abaixo.

 

Antes quero dizer que até tive a intenção de participar do encontro que ocorrerá em Brasília nos dias 27 e 28 de julho. Mas “Análise de conjuntura: Desmonte ambiental do governo Bolsonaro” não é navegar sem bússola: aí vocês estão tocando rabeca enquanto o barco afunda! Ora, como se a espoliação tivesse começado com Bolsonaro e não nos tempos do Brasil Colônia. Como se Bolsonaro não fosse apenas o estertor do processo histórico a que estamos submetidos. Como se o projeto dos militares que deram o golpe em 64 em construir Belo Monte não tivesse saído do papel no governo Dilma. Como se no início do século passado um pernambucano de nome Manoel Bonfim, em seu livro América Latina: males de origem, não tivesse descrito o parasitismo que as nações centrais exercem sobre as periferias do sistema. Um pernambucano minha gente, um pernambucano escreve dez anos antes de Lênin nos deixar seus escritos sobre o imperialismo.

 

Os livros e artigos do entrevistado me acompanham por longa data, assim como meu interesse por comida, questões fundiárias, desenvolvimento e ocupação agrária no Brasil e América Latina. Assim que me aproximei da Revolução Brasileira, que se organiza como corrente interna do partido, tomei conhecimento da Teoria Marxista da Dependência, uma teoria revolucionária. A primeira lição foi dada por Gilberto Felisberto Vasconcellos em Gunder Frank: o enguiço das ciências sociais. Gunder Frank afirma que o único desenvolvimento que pode haver nas periferias do capitalismo é ‘o desenvolvimento do subdesenvolvimento’. Ruy Mauro Marini ensinou que nas periferias do sistema a exploração do trabalho assume o caráter de superexploração. E que só há dois tipos de economias: as centrais e as periféricas. Que país ’em desenvolvimento’ não existe! Ou é imperialista, ou é periférico, dependente e subdesenvolvido, como o Brasil.

 

Mas os teóricos da TMD, até onde li e compreendi, não falam que todos os seres vivos — tanto dos países centrais quanto dos periféricos — só comem o Sol transformado. Nosso primeiro alimento é o sangue, o segundo o leite materno e o terceiro sementes (a menor quantidade de matéria que contém a maior quantidade de energia bio-disponível). A correlação entre húmus, sangue, leite materno e sementes estabelece o biótipo, o tipo sanguíneo e o sistema imunológico da classe trabalhadora e dos ricos, mas o lucro dos países centrais força a alienação nas periferias.

 

Vem daí a necessidade que sinto em juntar as duas teorias: a Teoria Marxista da Dependência com a Teoria da Natureza Tropical. A dialética da dependência com A dialética dos trópicos. Casar Ruy Mauro Marini com Bautista Vidal. O primeiro passo foi conversar com Gilberto Vasconcellos.

 

SOLcialismo ou Barbárie — Uma entrevista com Gilberto Felisberto Vasconcellos

Ivana — Minha hipótese é que dentro de 10 ou 20 anos, a linha de produção de insumos do agronegócio será completamente mudada de agroquímicos e fertilizantes sintéticos para biossintéticos e biofertilizantes. E num período talvez maior, teremos a mudança de matriz energética por imposição do capital. Teremos vaca, pasto, porco, galinha, ração orgânicas e biocombustíveis. E por esse motivo toda gritaria veganista, contra agrotóxicos, por leis mais duras, é inócua se não estiver casada com um projeto revolucionário de tomada do poder pelo povo. O senhor concorda com isso? O que pode me dizer a respeito?

GFV — Eu estou admirado das suas palavras. Você estuda o quê?

 

Ivana — Comida e desenvolvimento agrofundiário.

GFM — Mas que síntese você fez aí, admirável. (…) E eu concordo com você. Você sabe que eu escrevi com o Bautista A dialética dos trópicos e O poder dos trópicos. Lamentavelmente não existe no projeto da Revolução Brasileira a necessidade da mudança da matriz energética, do fóssil para o hidrato de carbono. Ou seja, sair do hidrocarboneto para a energia vegetal. Não há possibilidade de existir socialismo com o combustível fóssil. É impossível. Pela própria natureza, pela composição intrínseca do petróleo, que é uma forma que exige uma produção extensiva, muito capital, é muito concentrado e condiz com o sistema capitalista oligárquico e pós retracionário. Por isso que a afinidade entre o capitalismo e o combustível fóssil é total. Esse é o primeiro dado.

Porém, em função da exaustão do petróleo, ou seja, do uso abusivo que se fez do combustível fóssil, sobretudo nos países ricos e imperialistas, o petróleo está acabando e coloca um problema sério: qual é o combustível que vai impulsionar o sistema capitalista?

Uma primeira alternativa seria a alternativa nuclear, que é uma maneira de sair do fóssil e não entrar no vegetal. Rachar o átomo para daí extrair energia, embutir uma bomba atômica em cada usina nuclear. Então, esta alternativa é extremamente perigosa. Obter eletricidade pela usina nuclear é muito arriscado. E cara. Mas cara não tem problema, dinheiro eles tem, o problema são os riscos intrínsecos, de acidentes e atentados terroristas. (n.e: Chernobyl, Three Mile Island, Fukushima estão aí para nos lembrar)

Bom, uma vez que o petróleo está acabando e está acabando mesmo, embora a mídia oculte, não há a possibilidade que ainda sobreviva daqui a cem anos. Aí vão falar: cem anos é muita coisa. Mas cem anos não é nada no processo histórico. E pode ser menos.

Mas mesmo que não acabe repentinamente, que haja a extinção completa do petróleo, já coloca o problema da escassez, e o que isso traz em termos de conflito entre os países ricos e imperialistas a fim do pouco que sobra de petróleo. Esse é um aspecto.

Outro é que lançar mão do fóssil é matar a natureza. A natureza não tolera mais o uso e a queima do combustível fóssil por vários motivos, sobretudo o aquecimento global cujas conseqüências são a chuva ácida, a secura dos rios, os peixes tomando antibióticos (n.e.: e comendo plástico) e a degradação da comida, o câncer provocado pelos transgênicos, o que a gente já sabe e que foi anunciado pelo Silva Mello nas décadas de 40 e 50 do século passado, sem a problemática da exaustão do petróleo. Silva Mello já apontava que o crescimento de diversas doenças eram consequências diretas de um uso deformado da agricultura, sobretudo o adubo nitrogenado, o adubo derivado do petróleo, que é o começo do câncer, dos dentes estragados, diabetes, e enfim, uma série de doenças que estão relacionadas à degeneração da comida.

 

Ivana — Tudo descrito no livro A superioridade do homem tropical.

GFV — Justamente. Em A Superioridade do homem tropical Silva Mello anteviu tudo isso, embora não fosse marxista e nem fizesse um ataque frontal ao capital. Ele era um cientista biológico, entendia a biologia e então percebeu — e talvez tenha sido um dos primeiros a perceber — a ontologia tropical, a riqueza dos trópicos, que é uma coisa que sempre foi desprezada pelo pensamento social brasileiro — progressista e inclusive marxista. São raros os marxistas que dão bola para o sol. Os marxistas dão bola para a neve. Têm saudades da neve. Mas eles não querem olhar para o sol, eles não colocam o sol na luta de classes.

 

Ivana — O que importa é que o senhor coloca. Com relação a essa crítica que o senhor faz aos marxistas, que priorizam a superexploração do trabalho ao mesmo tempo que não apontam a natureza como fonte de energia que impulsiona a produção de mercadorias no sistema capitalista — o senhor faz isso em 2001, no livro Biomassa: a eterna energia do futuro. A crítica que você faz ali ganha um respaldo internacional — vou chamar assim — com A ecologia de Marx, do Jonh Belamy Foster, publicado no ano 2000 nos Estados Unidos mas só traduzido no Brasil em 2011. Aqui, tanto progressistas quanto marxistas que se arriscam a pensar em ecologia estão em grande parte ainda presos aos eco-socialists de primeiro estágio, como Michel Löwy e Daniel Tanuro. As raridades acadêmicas que ousam alcançar os de segundo estágio, murmuram em uníssono Ohhhh! para Paul Burket e Belamy Foster. Não vejo ninguém contrapondo, dizendo que Gilberto Vasconcellos não só apontou a ecologia de Marx junto ao Foster, mas fez algo inédito: trouxe Marx aos trópicos, revelou a ciência e a ontologia de Marx ao que este certamente consideraria o berço de uma civilização socialista. Essa recusa em aceitar, revelar, propagar o pensamento crítico nacional não é mais uma tralha para nosso baú do colonialismo científico, cultural e intelectual a que estamos submetidos?

GFV — Ah, você está (risos) eu vou ter que tomar duas garrafas de vinho depois de conversar com você, né? Olha, você toca num ponto violento. Mas eu não vou poder falar isso…

 

Ivana — Mas alguém tem que falar. Silva Mello e Câmara Cascudo falam da degradação da comida, do processamento industrial do alimento e suas consequências econômicas na saúde da população ainda na década de 40, 50… O senhor aponta a ecologia de Marx antes de Foster. A relação natureza/trabalho, o potencial dos trópicos versus dependência e subdesenvolvimento antes que qualquer um. Isso precisa ser dito!

GFV — Eu vou te mandar os artigos que escrevi e enviei para a Monthly Review. Olha, ninguém me fez essas perguntas como você, com tanta percuciência e prisma analítico de alta qualidade. Ninguém. Eu gostaria que o Bautista estivesse vivo para ouvir a tua voz.

 

Ivana — Tenho lido alguma coisa do Bautista também e vou aproveitar para adiantar a pergunta que havia deixado para o final. Eu considero que Cuba foi o primeiro país latino americano a identificar o caráter dependentista e parasitário do que se convencionou chamar Revolução Verde. Isso porque quando eles entram no Período Especial os cubanos acabam por realizar uma revolução agroecológica. São obrigados a deixar de depender dos insumos agrícolas soviéticos e desenvolvem tecnologias próprias de desenvolvimento agrícola, o que certamente teve impacto na saúde dos cubanos. Mas não foi determinante para as trocas internacionais, como diria o saudoso Brizola. Podemos dizer que o grande erro do Fidel foi não ter dado ouvidos ao Bautista Vidal?

GFV — Seguramente. Isso daí, e o Marcello Guimarães também. Porque o Marcello Guimarães e o Bautista estiveram em Cuba e eu perguntei a eles porque Fidel não fez a mudança de matriz energética, sendo que Cuba é o trópico e essa seria a maneira de acabar com a dependência do petróleo soviético. Eles me disseram que era por causa da viagem: os tecnocratas do açúcar viajavam. Olha que loucura! Bautista e Marcello afirmavam que havia um processo de corrupção no ministério do açúcar para não enxergar o óbvio. Afinal, por que não converter o açúcar, a cana, em combustível? Por que ficar só no açúcar?

 

Ivana — Exato. E continuam até hoje. O principal produto da pauta de exportação cubana segue sendo o açúcar…

GFV — Até hoje. Tinha aí uma questão que ele dizia que era do ministério do açúcar. Eu perguntei para o Nildo Ouriques. Aliás, ninguém me responde. Se você tem açúcar, por que você não faz combustível? Eles não respondem… Não respondem. O Marcello queria botar microdestilarias em Cuba, e com um terço da cana plantada já resolveria o problema. E ninguém deu bola pra ele, o Fidel vinha aqui conversar com o ACM. Assim como o Hugo Chávez. Nós tentamos publicar o livro O poder dos trópicos, na Venezuela, chegamos a traduzi-lo aqui, fizemos várias tentativas de falar com o Hugo Chávez. Chávez teria que fazer o álcool combustível porque isso iria desenvolver Caracas e resolver o problema da comida. Onde se planta, você gera energia e a energia é comida!

 

Ivana — Cana, vaca, leite, tudo junto, a ideia da geração de energia e alimento em pequenas e médias propriedades conforme descrito em Biomassa: energia dos trópicos em Minas Gerais, do Marcello Guimarães.

GFV — Sim. E ninguém deu bola. Assim como a Dilma, o Lula, nós fizemos várias tentativas. Ninguém deu bola. Ninguém dá bola pra isso. O negócio da Montly Review, por exemplo. Eles são bons na análise, mas não sabem sair do impasse. Entendeu? Eles não sabem sair do impasse. E por quê? Porque eles não conhecem o trópico. O trópico é um ignoto deus é um deus desconhecido. Ninguém conhece o trópico e há uma recusa em conhecer o trópico, e aí dá-se cabeçada.

 

Ivana — Ignorar a natureza tropical também parece ser uma constante entre os economists, mesmo os marxistas e até nacionalistas…

GFV — Sim, o problema é que eles são educados na moeda. Não chegam na natureza, na energia . Até falam da desalienação energética, mas no fundo não compreendem isso. Ninguém compreende isso.

 

Ivana — O senhor compreende isso como ninguém. É revolucionário. Compreende a natureza dos trópicos como fator determinante para a mudança do modo de produção.

GFV — Mas só você compreende. Pela sua formulação, só você compreendeu.

 

Ivana — Então é chegada a hora de pautarmos o assunto com seriedade. Levarmos essa compreensão aos que andam por aí batendo cabeça com quinquilharias parlamentares e jurídicas, em discussões diversionistas, quem sabe até entre os economists marxistas nacionalistas. Afinal, nem mesmo os economistasestão dispostos a comer papel moeda ou dívida pública.

GFV — Repare bem. Não há socialismo sem trópico. O socialismo virá do trópico ou não virá de lugar nenhum. É impossível existir socialismo com combustível fóssil. Donde vem a energia que vai propulsionar o socialismo se não do Sol? Então por que não se coloca isso?

 

Ivana — Bueno, vamos por. Está posto. A teoria da natureza tropical é o elo que falta na TMD. Marxismo nacionalista na veia.

Agora uma outra pergunta: o Brasil acaba de receber autorização da ONU para incorporar mais 170 mil km2 de área de Plataforma Continental, além da Zona Econômica Exclusiva. Isto significa a ampliação do nosso mar territorial além das 200 milhas. A famosa Amazônia Azul amplia seus contornos, a mídia não repercute, a notícia foi dada por um site liberal e os ecologists estão preocupados com a emissão de carbono, com o aquecimento global. Não ouvi comentários dos economistas. O fato que interessa é que a concessão não seria dada se tivéssemos soberania, se a Petrobrás já não estivesse internacionalizada e a exploração da Plataforma Continental pudesse trazer algum benefício para o povo brasileiro. O que o senhor me diz?

GFV — Claro, porque eles tem uma visão de cartão postal da energia. O Psol é Gabeira, o Psol é a ecologia da praia. O sol é pra dar praia, se não der praia o sol não tem importância. Não entra na cogitação do Psol.

 

Ivana — Sim. Penso que parte dos ecologics falam de mudança da matriz energética mas seguem os ditames europeus e estadunidenses, querem placas solares (Taua — CE) e aqueles horrendos parques eólicos, verdadeiras usinas de matar passarinho. Não falam em biomassa, associam a geração de álcool combustível ao latifúndio e não às pequenas e médias propriedades rurais. Aceitam a mudança que vem da Europa, e não pensam na revolução.

GFV — O Psol tem Sol no nome mas é um partido plúmbio, sombrio. Psol, mas no fundo é escuridão, é breu do ponto de vista energético. No fundo é o quê? É Gabeira, uma cópia dos Verdes europeus. Eles não deram bola para o Bautista, ninguém deu bola para o Bautista Vidal. O Bautista Vidal é o maior físico do século.

 

Ivana — Quanto ao indigenismo que aparece no Psol, que teve até uma candidata indígena à vice presidência do país, mas que é extremamente dependente do Fundo Amazônia, essa excrescência financiada principalmente pelos governos da Noruega e Alemanha, países que são predadores históricos da Floresta, que carregam madeira, minério e se locupletam com a biopirataria. Está muito distante do Darcy e da Berta Ribeiro. É um indigenismo que come na mesma mão que empunha o açoite. E isso me faz lembrar do relativismo da soberania amazônica propagandeado por Gorbachev e Mitterrand há não muito tempo. O senhor lembra?

GFV — É verdade. O Bautista por exemplo era contra esse negócio de nação indígena tomar conta. Veja bem, não é Bolsonaro isso que estou te falando. Repare bem: você coloca um quisto na Amazônia multinacional com roupagem indígena, que me perdoe o Darcy, eu sou absolutamente a favor do legado indígena, nada contra. Ao contrário. Mas hoje, esses grupos ecológicos são completamente vulneráveis à espoliação do imperialismo da energia da biomassa. Vou te dizer o seguinte: há, agora, uma exploração a serviço da biomassa. Mas é uma exploração feita em grandes propriedades, olha que loucura. O meu amigo Marcello Guimarães dizia que o imperialismo ia quebrar a cara quando tentasse explorar a biomassa em grandes propriedades porque a biomassa intrinsecamente não pode ser explorada em produção extensiva. Bom, como ele era um cientista, conhecia palmo a palmo a natureza brasileira e ainda dizia que quem não conhecia 50 nomes de cipó não podia ser intelectual, bom, eu ficava tímido, mas eu desconfiava que era possível. E hoje nós vamos ter produção da biomassa em escala extensiva. O que está ocorrendo no Brasil do Sarney pra cá não é senão um movimento subterrâneo para os países imperialistas se apossarem da biomassa que é a eterna energia do sol. Não é dinheiro na cueca, não é mamadeira de piroca, não é nada disso. O que está por trás, a essência do movimento histórico, não a aparência, como dizia o Marx, está na importância fundamental para o mundo da energia vegetal que se encontra no trópico. Se não tocar nisso, não toca em nada. Então você tem razão de se indignar com esse ecologismo de boutique do Psol. E do PT também, e de todos os partidos. O PDT também, porque o Brizola morreu, não deu tempo. O Brizola ia compreender, com dificuldade é claro, porque ele também foi educado no petróleo. Todo mundo foi educado no petróleo. É difícil você admitir que o petróleo não é a última energia do mundo. É preciso ter um estudo violento para chegar a isso. Tanto é que figuras geniais da política, da sociologia, e tal não chegam. O pessoal da Monthly Review mesmo, eles chegam na necessidade de ir além do fóssil, mas eles não chegam na importância do trópico. Porque não estão no trópico. Aí parece que a gente quer um expansionismo, como nós detemos a última energia do mundo, eterna, então nós vamos usar isso para ser imperialista? Não. Não é nada disso. Além do que, se utilizada como Bautista e Marcello diziam, de maneira descentralizada, além da propriedade privada, isso aí não tem projeto imperialista.

E outra coisa, a biomassa, ela é feminina, eu acho que as mulheres têm mais condições de perceber a importância da biomassa do que os homens. É uma intuição. Tanto é que você, representante do gênero feminino está me fazendo essas perguntas que ninguém fez.

 

Ivana — Talvez porque historicamente as mulheres estiveram mais ligadas ao cultivo da terra, à agricultura, enquanto os homens se dedicavam mais à caça. Talvez esse aspecto antropológico grite, mas só vai encontrar ressonância se for compreendido como uma questão de classe, quando apropriado pela classe trabalhadora. Mas não deixa de ser importante a questão de gênero. A maior cientista de solo no Brasil, a meu entender, é Ana Maria Primavesi, embora seja mais uma ilustre desconhecida…

GFV — Me manda os textos dessa moça…

 

Ivana — Essa moça é uma senhorinha de 99 anos. Mas mando sim.

GFV — E a questão toda é o adubo. O Marcello dizia que queria ir para a Venezuela para fazer o adubo orgânico. Mas infelizmente ele morreu.

 

Ivana — Professor, eu agradeço muito pela aula. É sempre um prazer desfrutar da sua sabedoria. E já que não dá para colocar a luta de classes no sol, vamos colocar o sol na luta de classes. Gracias.

FGV — E você está autorizada a publicar isso onde você quiser. E a partir de agora, não usa mais socialismo, usa solcialismo. Solcialismo. Solcialismo para iluminar a revolução.

 

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Buenas, enfim a discussão está aberta e a boa notícia ao professor Gilberto Vasconcellos é que a transição energética do fóssil ao vegetal vem fazer parte do programa da Revolução Brasileira. Seus amigos Bautista Vidal e Marcello Guimarães Mello, assim como Ana Maria Primavesi serão nossas lanternas científicas embasando a necessidade da gestão dos meios de produção e geração de energia operada pelos próprios produtores associados.

 

Não são hidrelétricas, usinas solares e parques eólicos as alternativas energéticas para um país tropical, como afirma Michel Löwy em 2011 — e que aparece até hoje entre aqueles interessados na maquiagem do sistema, em seu esverdejamento, para não falar dos novos/velhos conhecidos colloridos primaveris — ao invés de apontar sua mais radical e necessária transformação: a Revolução Brasileira que conduzirá a classe trabalhadora ao poder político. É a biomassa. É a propriedade comum da terra e dos meios de produção.

 

Prestem muita atenção: “ O que está ocorrendo no Brasil do Sarney pra cá não é senão um movimento subterrâneo para os países imperialistas se apossarem da biomassa que é a eterna energia do sol.” Ouso dizer que iniciou antes, com Costa e Silva, quando ultrapassamos a barreira de mais da metade da população vivendo nas cidades. De lá para cá, atingimos a metástase no metabolismo social: somos aproximadamente 90% da população brasileira amontoada nas cidades e mesmo que pesem os pequenos e médios produtores rurais, a radiografia brasileira mostra um território predominantemente latifundiário, onde os títulos de propriedade podem até pertencer à burguesia nacional, mas a produção é internacionalizada, vendida previamente nas bolsas de valores. Mais do que nunca, a Revolução Brasileira é anti-latifundiária.

 

É, acima de tudo, um convite à militância. Que possamos ter e partilhar o acúmulo teórico necessário para festejar o casamento revolucionário da Teoria marxista da dependência com a Teoria da natureza tropical. O grande encontro de Marx com Humboldt sob o legado de Simon Bolívar.

 

*Os textos e artigos publicados pelos Militantes pela Revolução Brasileira não exprimem necessariamente opinião da Coordenação Nacional da Organização.

 

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Comentários

  1. Saudações aos camaradas SOLcialistas Ivana e Gilberto! Que beleza de texto! Maravilhoso! É por estes caminhos que percebo o quanto tenho por ler. A questão da cana cubana é algo que já parei para pensar e tampouco consegui fechar com uma resposta que me convencesse. Mas discordo de que apenas a biomassa sozinha seja solução energética dos trópicos. Energia eólica, solar (térmica e fotovoltaica) e hidráulica tem sim seu lugar e suas necessidades dentro da matriz energética, nem um pouco desprezíveis. Todas, ao final do dia, formas diferentes da expressão solar, não esqueçamos.

    1. Gracias, Alex.
      A questão que devemos levantar quanto pensamos a transição de matriz energética é: qual a alternativa que melhor atende as nossas necessidades levando em conta não apenas nossas características físicas, mas também o desenvolvimento tecnológico já alcançado e o custo-benefício de cada alternativa não apenas em termos monetários.
      Veja, a tecnologia de geração de energia eólica é toda estrangeira. Pagamos royalties em cada componente. Ainda não desenvolvemos tecnologia de purificação de silício suficiente para sermos os detentores da técnica de geração fotovoltaica, mais royalties. Sem falar que em grande escala, tanto os parques eólicos quanto as usinas fotovoltaicas não promovem o equilíbrio ecológico nem tampouco a ciclagem do solo, além de concentrarem a geração e distribuição, requerendo investimento maior e não permitindo a geração em pequenas propriedades, gerando autonomia aos produtores associados.
      Isso não quer dizer que devamos descartar as placas solares em ambientes urbanos, ou pequenas comunidades rurais e territórios indígenas e quilombolas, onde é uma alternativa, como demonstram os povos Ashaninka no Acre.
      Lembremos que o lobby das grandes empresas estrangeiras para a implementação de parques eólicos e usinas fotovoltaicas é imenso.
      E para seguirmos construindo hidrelétricas a pressão vem da velha oligarquia rural, a face mais visível os filhotes de Ronaldo Caiado. Hidrelétricas têm um enorme custo ambiental, além de monetário. Para quê continuarmos investindo nesses elefantes, se temos tanta onça, paca, tatu, tamanduá para salvarmos por aqui? Se a geração de energia, inclusive elétrica, através da BIOMASSA é possível, viável e permite SOLcializar a produção? E toda a tecnologia é nacional, nos permitindo a tão sonhada independência?

  2. Conheci o Prof. Gilberto Vasconcellos quando ainda estávamos na puberdade. Era primo do meu saudoso amigo Carlos Vasconcellos. Gilberto era conhecido como Bituca por seus familiares e já naquela época fazia comentários sobre política que encantava a todos. Talvez sofresse influência do marido de sua tia, Dr. Armando Domingues, sergipano, médico e marxista que também me influenciou muito, embora eu não tenha me tornado um intelectual. Sou apenas médico com um pouquinho de consciência crítica. Deixo aqui um forte abraço no Gilberto, desejando-lhe muita saúde e uma longa vida.

  3. Que comentário encantador! Na primeira oportunidade levarei seu abraço e considerações ao Gilberto, posto que ele não é afeito às “redes sociais internéticas”.

    Creio que o Dr. Armando Domingues seja o referido neste texto:

    ” Recentemente tivemos conhecimento pela imprensa que a Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe aprovou projeto-de-lei que resgata o mandato de antigos parlamentares cassados por atos de arbítrio, em função de posições políticas e ideológicas. Na lista, entre outros, vimos o nome do Dr. Armando Domingues, falecido em Salvador em 12 de dezembro de 1992, com 80 anos.
    Um ato de justiça que se faz ao cidadão, político e médico, clínico geral de reconhecida capacidade, de raciocínio rápido e investigativo, com instinto certeiro em seus diagnósticos, que se enquadraria muito bem nos dias de hoje no personagem do seriado de TV “House”, só que um Dr. Gregory House humanista, bem diferente do que se apresenta na televisão, desprovido de boas maneiras e com a frieza de um detetive profissional, mas que chega aos mais difíceis diagnósticos.
    O Dr. Armando Domingues também chegava aos mais difíceis diagnósticos através de uma paciente anamnese e um exame físico rigoroso, num tempo em que não existiam exames especializados, quando muito um reduzido laboratório de análises clínicas, e de imagens, apenas, as fornecidas pelo tradicional Raios-X.
    Armando Domingues da Silva nasceu em 20 de maio de 1912, em Entre Rios, Bahia. Formou-se em 1935 pela Faculdade de Medicina da Bahia, com apenas 23 anos. Iniciou suas atividades médicas em Itabaiana, transferindo-se para Aracaju onde foi trabalhar no Hospital Colônia, sendo considerado um dos pioneiros da psiquiatria em Sergipe. Humanista, teve militância política no Partido Comunista. Com a queda do Estado Novo foi eleito deputado estadual, obtendo consagradora votação. Destacou-se como orador popular e tribuno brilhante na Assembleia Legislativa, sendo admirado e respeitado até pelos seus adversários. Foi um dos líderes do histórico comício realizado em frente ao Cinema Rio Branco, onde foi assassinado o ativista Anízio Dário pelas forças da reação.
    Nas lides políticas, participou de todos os grandes movimentos nacionais, pela entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial contra as potencias do eixo, da campanha “O Petróleo é nosso” e do movimento pela anistia a Luiz Carlos Prestes. Teve seu mandato cassado no governo Dutra, sendo demitido de todos os empregos que tinha em Sergipe. Retornou à Bahia, onde atuou na Fundação Gonçalo Muniz, em Salvador e comandou o Laboratório de Análises Clínicas da Maternidade Tsylla Balbino até se aposentar em 1982 aos 70 anos. Atuou como perito do INSS e manteve com a filha, Maria Lúcia, um laboratório de análises clínicas.
    Mas o que tem a ver a bengala com Armando Domingues? Quem me contou a história foi Lauro de Brito Porto, um dos grandes amigos do esculápio vermelho. Lauro era depositário de uma bengala que pertenceu ao médico Armando Domingues, numa fase de sua vida. De todos os seus pertences, confessou Lauro, aquele era o mais precioso, como símbolo de uma sólida amizade que existiu entre os dois desde os tempos da vetusta Faculdade de Medicina da Bahia, no Terreiro de Jesus. Como colegas de turma, eles já se destacavam nas lutas estudantis. Lauro inclusive chegou a ser preso em 1932 após levantar, em rebelião, os estudantes de Medicina em apoio a Revolução Constitucionalista.
    Formados em 1935, vieram atuar em Sergipe. Em 1945, com a redemocratização do país propiciada pelo desfecho da Segunda Guerra que expurgou os regimes ditatoriais fascistas, Armando elegeu-se deputado estadual pelo Partido Comunista. De espirito irrequieto, tribuno vibrante, Armando destacou-se no parlamento sergipano, numa época em que o Partido Comunista atingiu o seu ápice de popularidade e representatividade política, chegando a eleger três vereadores em Aracaju, entre eles o destemido líder Carlos Garcia, em 1947.
    Em 1945 o PCB retornara à legalidade, obtendo seu registro eleitoral. Nas eleições presidenciais, realizadas em dezembro, o partido lançou a candidatura de Iedo Fiúza e obteve cerca de 10% do total de votos, tanto para o candidato apoiado como para a chapa do partido para a Assembleia Nacional Constituinte, elegendo 14 deputados federais e um senador, Luiz Carlos Prestes.
    Com cerca de duzentos mil filiados em 1947, seu registro é novamente cancelado pelo TSE, no governo do marechal Eurico Gaspar Dutra e seus parlamentares são cassados. As reações contra a arbitrariedade se espalham pelo país e em Sergipe um comício é marcado para a Rua da Frente, em protesto contra a cassação dos mandatos e em defesa da democracia e da paz, ameaçadas pela corrida armamentista dos Estados Unidos.
    O governador José Rollemberg Leite reage, não quer a manifestação e manda a tropa dissolver a concentração. Para despistar, os manifestantes mudam o ato para a Rua João Pessoa, em frente ao Cinema Rio Branco, único local que possuía iluminação adequada. A polícia de cavalaria investe contra o povo, que se defende como pode. Nessa hora, tudo pode representar uma arma de defesa, até mesmo uma simples bengala.
    No meio do tumulto, um tiro disparado pela polícia fere mortalmente o operário negro Anísio Dário e a partir daí acontece uma correria pra todos os lados. Lauro Porto recolhe a bengala perdida na peleja e a guarda consigo. Os comunistas são perseguidos, perdem seus empregos, Armando, com mandato parlamentar cassado, transfere-se para Salvador e abandona a militância em prol de uma bem sucedida trajetória médica. A bengala de Armando Domingues fica sob a guarda de Lauro Porto por 67 anos, até a sua morte. Dias depois, visitei os filhos de Dr. Lauro em sua residência e contei-lhes a história da bengala. Uma antiga empregada da família lembrou de tê-la visto certa vez, quando arrumava a casa.
    Passadas algumas semanas, recebemos em doação para o Museu Médico a bengala de Armando Domingues, finalmente localizada pela família de Lauro Porto atrás de um armário. Para os idealistas de 30 e 40, seus ideais convergiam para a libertação do povo. O socialismo era o regime das esperanças: contra a fome, o desemprego, a desigualdade social. O verdadeiro simbolismo da bengala não foi só representar o elo que uniu Lauro e Armando em amizade fraterna.”

    Cassado pelo regime militar, assim como Mário Victor de Assis Pacheco, médico nacionalista e oficial do exército também cassado pela ditadura de 64. Ainda não me dediquei o suficiente sobre a extensa obra deixada por Mário Victor, mas iniciei a empreitada.

    Quem sabe o senhor também me concede uma entrevista para que possamos conversar sobre a formação médica no pós 64, o que se perdeu e quais os caminhos a serem trilhados pela revolução brasileira rumo a recuperação da saúde de nosso povo?

    Grande abraço.

  4. Caríssimos Ivana e Gilberto, ou fazemos a Revolução ou a Revolução será feita por nós. Essas são as únicas alternativas para nos tirar do lodo do capital. AVANTE!

  5. O Cientista e o Caipira

    Fui um dos organizadores do Partido dos Trabalhadores em Torres-RS. No ano de “2001” houve uma “acirrada” disputa pelas tendências para ver quem dominaria o partido e eu recebi um farto material de todo o país. Quando empilhei “1000” páginas e antes de jogar tudo no lixo, peguei uma régua e fui passando linha por linha a procura de uma palavra: ENERGIA, mas, infelizmente, não a encontrei. Alguns dias após no gabinete da senhora vereadora de primeiro mandato do PT e depois prefeita de Torres, Nílvia Pinto Pereira, sou convidado a assistir umas das tendências à disputa estadual. Entre os presentes estava a senhora professora Ana Fogaça, que viera de Porto alegre.
    Após ouvir muita “lengalenga” e destoando totalmente da pauta perguntei se entre os presentes alguém já tinha ouvido falar em José Walter Bautista Vidal. Recebi um olhar estranho da maioria, mas, mesmo assim consegui falar sobre o HOMEM e sua OBRA. Pensei que tinha pregado no deserto. Porém, para meu espanto, no final da reunião a professora Ana Fogaça me chama e diz apontando para um velho Del Rey: “Companheiro, dentro do meu carro eu tenho uma blusa do Dr. Bautista Vidal.” Achei, é claro, que nós estávamos falando de “Bautistas Vidais” diferentes.
    Afinal o Bautista que eu falava, para mim, estava na esfera dos deuses conforme aprendi com o sociólogo Gilberto Felisberto Vasconcelos e outros através de leituras na revista Caros Amigos. Fez mestrado na Espanha, Universidade de Compostela e doutorado em Stanford nos Estados Unidos em Física Nuclear. Teve como orientador, um dos papas da física moderna, Guido Beck. Trabalhou com a fusão do hidrogênio. Alguns microgramas desse elemento e adeus laboratório (vinte milhões de graus). Palestrou para o congresso americano sobre ciência e tecnologia.
    Estudou muito, sabia demais, mas senti saudades dos trópicos, do Ser Brasileiro, a “Raça” Superior, que é a miscigenação de todas as “raças”, do Falar Brasileiro, a Língua Cósmica; do Sol; das águas, florestas, dos minerais e volta.
    Pobre professora Ana Fogaça devia estar falando de um “Batistinha”, pensei. Mas ela, a professora, insiste: “Companheiro, o doutor Bautista está voltando a Porto Alegre por esses dias e eu fui designada, pela minha ONG, a buscá-lo, de novo, no aeroporto. Se o companheiro quiser assistir à palestra dele eu o pego na rodoviária e vamos ouvi-lo.” Aceitei a oferta, meio desconfiado, e passei a contar os dias, mas a professora, parece, me esqueceu.
    Quando, quinze dias após, já não mais me lembrava da professora, o meu telefone toca; é ela e diz: “Companheiro, o professor está chegando.” Eu respondo: “Já estou fazendo a mochila”, mas ela argumenta: Não precisa. E eu, como? Ao que ela responde: “Ele, o Professor Bautista Vidal, manda perguntar se o companheiro não quer que ele vá a Torres; você reúne os seus amigos, pode ser em um barzinho…”
    Acredito que ela tinha se comunicado com o professor e dito a ele que conheceu um maluco caipira que lia os seus livros e pregava suas ideias como um evangelista louco…
    Dia cinco de Setembro à noite “Brasil x Argentina” na TV e no auditório da ULBRA em Torres Bautista Vidal se faz presente e começa, mais ou menos, assim:
    “O mundo vive uma curva perigosíssima, uma crise energética. A qualquer momento a bolha econômica vai estourar. As nações hegemônicas, ditas ricas, são na verdade muito pobres. Todas elas estão situadas nas zonas temperadas e frias do Hemisfério Norte, sem energia. Como poderão passar os invernos se dependem de calefação? Sem calefação é o frio, é a morte. Eles vão aprontar a qualquer momento.”
    E continuou: “Porém essas nações tem uma incrível e invencível capacidade de roubar e matar, e matam, e roubam sem piedade para se apoderar dos recursos naturais dos outros países. E energia é apenas um dos recursos que eles não têm. Contudo, é o principal recurso que uma nação precisa para sobreviver.”
    Em “11/09/2001” caem as torres gêmeas e os gaviões do norte, do império do frio, invadem o Iraque e o Afeganistão e matam e roubam sem piedade.
    Mas o professor prossegue: “O Brasil é o celeiro do mundo. Pode abastecer a humanidade com alimentos e energias limpas e renováveis para sempre. Porém carece de homens públicos. Dólar é moeda falsa e quem manda no Brasil não é Fernando Henrique. É Malam e Armindo Fraga que são empregados de George Soros, o dono do Opportunity, um delinquente internacional. Um homem do narcotráfico que promove as guerras de genocídio na África.”
    Em função das privatizações afirmou: “Cadeia para Fernando Henrique, Malan, Armindo fraga é muito pouco.” Mas também não confiava na “nomeKlatura” do PT, e acreditava que Lula seria manobrado pelos intelectuais do partido (acredito que aqui ele errou). Defende com unhas e dentes o corpo técnico da Petrobras. É contra as usinas nucleares, mas diz que o Brasil tem que ter a bomba. É uma questão de segurança nacional.”
    Cento e oitenta marisqueiros torrenses estavam presentes, e esqueceram o “futebol”. Torres tem Brava Gente Brasileira. A ULBRA cedeu o espaço, mas não liberou os seus alunos.
    Depois da palestra aquela janta no Restaurante Beira Rio e aquele bate papo sem fim. Que delícia! Arrisco uma pergunta fulminante: “Professor, o Sol é um deus?” Ele rebate: _ “É um deus” e cita um verso: “Embora distante, cento e cinquenta milhões de quilômetros, Tua energia está entre nós”. E foi me explicando que o verso é do poema Hino ao Sol, escrito há 3400 anos por Akenaton IV, rei do Egito Antigo, e que somente há “200” anos a ciência moderna entendeu que o hino é o tratado de Termodinâmica.
    No dia seguinte apanho o professor no Hotel Beira Mar e ele me brinda com o café da manhã em minha casa, junto com a professora Fogaça e o motorista do Del Rey.
    No mês de Outubro tive a felicidade de ficar doze horas ao lado do mestre (do meio dia à meia noite) em Porto Alegre, junto com a professora Ana Fogaça. Almocei e jantei com ele, assisti as suas palestras, vendi os seus livros, perguntei muito e ele sempre educado a tudo me respondia. “Professor, quem derrubou as torres gêmeas?” – “Quem tinha interesses, disse: a ultradireita americana, inglesa, israelita. E complementou: No pentágono ninguém viu avião nenhum.”
    Em Novembro de “2001”, em um evento na Universidade Estadual de Criciúma/SC, Bautista Vidal se faz presente entre outras feras do conhecimento. São dezoito horas de palestra sobre energia. Entre as feras estão Fernando Siqueira e Argemiro Pertence ex-presidentes da associação dos engenheiros da Petrobras, dois doutores da Universidade Federal de Santa Catarina (um é físico o outro químico), o presidente do CREA/SC, pessoal do carvão e outros. Eu com amigos estamos no meio da plateia. Alguns militares fardados também se fazem presentes. O debate é forte.
    Bautista Vidal, depois de uma fala calorosa, nacionalista, humana, aponta com força e diz alto e em bom tom: “Capitão, o senhor sabe que ditadura militar não serve ‘pra’ nada, mas as nossas forças armadas tem o dever de proteger a Nação Brasileira.” É aplaudido de pé e com entusiasmo pelos militares e todos os presentes.
    Aproveito o intervalo e me aproximo do professor Paulo de Paula, coordenador do evento, e pergunto a ele da possibilidade de conseguir uma cópia das fitas (filmes) do evento. Ele gentilmente diz que sim e acrescenta: “Tu queres as fitas por causa do professor”. Eu respondo: “Principalmente, mas…” O coordenador: “Amanhã o professor tem um encontro com o alto comando das forças armadas no Rio de Janeiro”. Mas na imprensa nada se fala. A grande imprensa está a serviço de Soros.
    Em Junho de “2002” o professor volta a Torres, mas a ULBRA não cede espaço para o evento. Arranja pretexto. Conseguimos espaço no salão de festa de um hotel (Farol Hotel) com a presença de quinhentas pessoas. Professor Beto da ULBRA se faz presente com seus alunos. Professor Bautista Vidal dá um “show” novamente. Outra vez janto com ele. O engenheiro Gerson, na época presidente do CREA/RS, professora Ana Fogaça e outras pessoas. Arrisco outra pergunta: Professor, o petróleo vai mesmo acabar em trinta anos? Ele me responde: Qual a importância se é trinta ou cem anos. “O que importa é que ele vai acabar um dia. A humanidade nunca devia ter entrado nesse projeto porque é um projeto suicida.”
    Um dia qualquer faço uma ligação para o professor, mas ele não se encontra. No dia seguinte ele me liga e conversamos.
    Minha filha Elisa, a meu pedido, em passagem por Brasília, liga para ele para cumprimenta-lo e ele a convida para tomar um chá. Fica combinado para a próxima ida dela a capital, mas a empresa em que ela trabalha quebra (VARIG) e ela fica desempregada e não volta.
    Pensava ainda conversar com Ele, mas agora no dia primeiro de junho Ele partiu. O Meu Professor partiu, mas me deixou muitos livros.
    Este modesto trabalho tem a pretensão de ser uma simples homenagem deste caipira, jornaleiro e marisqueiro torrense, ao PROFESSOR J W BAUTISTA VIDAL.

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